Enfim a tão esperada formatura, motivo de longa espera, aconteceu! E mais uma turma de aviadores militares foi entregue à Força Aérea Brasileira; entre eles Cezar, vulgo Lag, o mais emotivo estóico que conheço, rs. E, não diferente de sua primeira formatura na já distante EPCAr, essa foi recheada de confusão.
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Demente, Lag, Guto e Paquito!
Enfim a tão esperada formatura, motivo de longa espera, aconteceu! E mais uma turma de aviadores militares foi entregue à Força Aérea Brasileira; entre eles Cezar, vulgo Lag, o mais emotivo estóico que conheço, rs. E, não diferente de sua primeira formatura na já distante EPCAr, essa foi recheada de confusão.
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Andejo Posto à Prova
sábado, 18 de setembro de 2010
Capítulo triste de uma história feliz...
Cabeça no travesseiro mas imaginação distante. Qual caminho seguir? Passaria a oeste de Buenos Aires, ou voltaria a entrar na grande metrópole? Ficaria mais alguns dias, anônimo, na capital portenha ou seguiria enfim a La Plata?
Mal sabia o despreocupado Andejo que seu próximo destino era ao norte, a milhares de quilômetros dali. Mas uma ligação, que deveria ter caráter meramente informativo, foi crucial e definitivo e definiu a direção dos próximos passos que ele mesmo daria.
Andejo é um cara simples, e por mais que seja bastante desapegado, tem amor a sua família, e nessa segunda-feira, recebeu uma difícil notícia: Sua avó havia sido desenganada pelos médicos, e de acordo com eles teria poucos dias de vida. Sua cabeça esvaziou e seu corpo pesou, e a simples decisão entre passar ou não por Buenos Aires tornou-se díficil e pesarosa.
Tanto que foi deixada de lado, e por um último adeus, Andejo decidiu caminhar novamente à sua origem, sua terra natal, São Paulo, e partiu naquele mesmo instante. Com uma carona de seus recém casados amigos foi até Zarate, onde, mesmo que mais distante, seria em teoria mais fácil conseguir uma carona direta ao Brasil. Chegou ao posto após a meia noite e até as quatro da madrugada esteve pensando na fragilidade da vida. Mas a partir do momento em que o primeiro caminhão ligou seus motores, terminando com o silêncio que reinava na fria e chuvosa madrugada, começou a buscar quem o levasse em direção a avó que esperava seu abraço.
Foi bastante difícil. Conversando com todos os motoristas que ligavam os potentes motores um a um, descobriu que em sua maioria iam para Buenos Aires e informavam que para conseguir carona para o Brasil teria que esperar até quarta ou quinta-feira. Porém não haviam muitas desistências no histórico deste persistênte Andejo, e após o pátio de caminhões estar quase vazio, encontrou uma boa alma que, quase caridosamente, o levou à fronteira. Este caminhoneiro, da pequena cidade de Londrina, alterou seu planos e partiu logo cedo para a cidade de Uruguaiana entendendo a pressa que sentia o quase sempre despreocupado viajante.
Horas interminéveis conduziram pela vigiada estrada, e somente ao pôr-do-sol chegaram à fronteira. Despediu-se do bondoso trabalhador do lugar que considera sua casa e carimbou seu passaporte de saída do país em que tanto tempo ficou, e o qual planejava terminar de conhecer. Uma estranha sensação o invadiu, estava voltando ao seu país, muito antes do planejado.
Até as 11 da noite, tentou sem sucesso uma carona mais longa do que cruzar a ponte ao Brasil. E como que por uma estranha coincidência, parou na aduana um ônibus que iria a Curitiba. Levaria-o a não mais de duas quadras da casa de seu pai, onde poderia passar uma noite, rever a família e no outro dia, descansado completar o trecho que faltava até o colo de sua avó.
Fazia muito tempo que este Andejo não a via. A vida os separou, e por displicência, ele não buscou estreitar novamente os laços. Mas ela estava fundo ainda em seus pensamentos, em suas lembranças. Podia lembrar da velha casa com tapete verde, e sacada, na pacata rua paulistana. As festas de Natal eram sempre animadas, com toda a família, afinal essa avó havia nascido no dia 25 de dezembro. Era bastante solidária e acolhedora, trabalhava em excesso para fazer com que todos se sentissem bem em sua casa. Estava um pouco acima do peso, e isso tornava seu colo e seu abraço ainda mais confortáveis. Estava com seus longos cabelos de índia já perdendo a cor, mas sua memória infalível lembrava os aniversários de seus 10 filhos, incontáveis netos, bisnetos e até tataranetos. Oitenta e nove anos de admirável vida.
Tomou o ônibus e por 24 horas esteve viajando rumo a casa de seus pais. Que louca sensação. Sua casa havia sido reformada e após alguns momentos relembrando os momentos em seu quarto, lembrou que não tinha mais quarto. Não só isso, mas muita coisa mudou, as coisas não param no tempo quando alguém não está presente, e as histórias continuam não importando sua presença nela.
Ao chegar em frente a porta de vidro que não existia quando partiu, avistou sua mãe limpando uma mesa distraidamente, e não foi reconhecido pela desavisada mãe. Porém um aceno e um sorriso foram suficientes para tal tarefa e ela sem acreditar desceu as escadas para abrir as portas ao filho que havia voltado ao lar sem avisar. Um abraço sincero bem apertado o recebeu, seguido de outro da irmã e do pai. Comida e cama, daquelas que mesmo não sendo do bom e do melhor, diferenciam-se por serem as da sua casa.
Após uma noite muito bem dormida, e de estar preparado para seguir viagem, foi recebido com uma dolorida notícia, sua avó havia acabado de falecer. Sempre amigo do tempo, dessa vez o Vadio recebeu uma dura lição. Mesmo ao mais ocioso pode faltar tempo para alcançar um objetivo. E assim sua viagem para um último abraço, tornou-se uma viagem para uma última despedida.
Foram todos a uma pequena cidade no interior paranaense chamada Itambaracá e lá encontrou parentes que não via desde os natais na casa de sua vó, e juntos velaram pela brava senhora chamada Maria José Vieira Grispan, que teve uma história de luta e de sucessos, que teve, sem dúvidas, uma história feliz. Ela já não está por aqui, não em carne, não em osso, não em sangue, porém, com certeza está junto dos os outros três avós desse Andejo, velando cada passo de seu longo caminho.
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
Pouca inspiração, muito trabalho e um casamento!
No final das contas não tirei a residência argentina, apenas renovei meu visto de turista e posso ficar, legalmente, até o dia 4 de Outubro na Argentina. Ainda hoje não sei como vou resolver esse problema, mas não estou preocupado, provavelmente vou cruzar um dia qualquer a fronteira com o Chile somente pra poder ganhar alguns dias mais nesse país que estou. Trato disso mais tarde.
Depois que resolvi esse problema de documentação, voltei a procurar um lugar melhor pra ficar durante o resto de estadia que tive na capital argentina, e por sorte, encontrei. Assim que venceram os quinze dias que paguei no pequeno quartinho de hotel na Avenida Belgrano, aluguei uma cama num apartamento compartilhado na Tucumán quase esquina com a Esmeralda, há umas 4 quadras de distância do Obelisco, mais importante cartão postal da cidade, e a uma quadra e meia do meu trabalho. Localizado no microcentro de Buenos Aires, esse apartamento se assemelha muito com as repúblicas estudantis aí do Brasil. Vivíamos em oito numa pequena cobertura duplex com 3 quartos, sala, cozinha e lavanderia. Dividi o quarto com um professor argentino de dança árabe que havia acabado de voltar do Egito, e os outros moradores eram em geral estudantes, ou argentinos ou colombianos. Não tive nenhum problema de convivência com meu companheiro de quarto, de fato ficamos amigos e isso facilitou para que eu ficasse confortável no apartamento que contava com internet, tv a cabo, calefação, geladeira e outras coisas que por mais que não sejam efetivamente necessárias, ajudam e muito no dia a dia. Não tive incovenientes durante minha estadia, e o único fato digno de atenção foi um cara que foi escoltado pela polícia em sua saída forçada do apartamento. Os motivos que levaram a isso foram intrigas e pecuínhas, e essas, ao contrário, não são dignas de linhas nesse blog.
Fato concreto é que a mudança para esse novo lugar gerou uma série de benefícios, entre eles economia financeira e de tempo, que me permitiram certa diversão além do trabalho, que diferente do que eu pensava na postagem de 4 de julho, continuou sendo de 11 horas, não sendo reduzido para seis, entretanto, dessa vez, me valia a pena já que com a grana que me pagavam eu não precisaria de um segundo trabalho. Agora falarei um pouco de trabalho e de diversão, primeiro sobre o dever e depois sobre o prazer.
Outra condição que negociei quando me fizeram a proposta de subgerência é que me dessem as folgas aos domingos e ao aceitarem minha contra oferta meus horários ficaram de segunda a sábado, das 10h as 21h, com uma hora de almoço. Mesmo sendo uma longa jornada, não tenho do que reclamar. O trabalho era leve, e na maior parte do tempo, os companheiros laborais foram bastante agradáveis - vários funcionários distintos passaram pela loja nesses 3 meses. Fora meus chefes que eram bastante acessíveis e agradáveis, o único funcionário que dividiu a loja comigo nesse período que estive durante todo o tempo foi meu gerente, Maku. A longa convivência traz problemas e por algumas vezes trocamos farpas, mas com mútuo respeito e bom senso, creio que além da relação de trabalho, cultivamos uma grande amizade que com certeza vai durar muito tempo.
Outra vantagem que me trouxe esse trabalho foi a prática constante de idiomas. Era constante falar 2 idiomas ao mesmo tempo e não era raro falar 3, exigindo muita atenção para não falar inglês com o brasileiro, português com o equatoriano e espanhol com o inglês. Não foram poucas vezes que, apurado por atender muitos ao mesmo tempo, dizia frases inteiras e ao final ouvia "English, please?" ou "Cara, eu sou brasileiro, esqueceu?"Menos mal que todos compreendiam rapidamente o que estava acontecendo e tudo terminava em gargalhada. Entretanto o momento mais engraçado foi quando, ao mesmo tempo, atendi, nos três idiomas que falo, a pessoas de diferentes lugares do mundo, ao mesmo tempo em que atendia um casal gay de surdomudos através de gestos. O fato de serem homossexuais seria irrevelante se não fossem bastante afeminados, o que tornava a situação ainda mais cômica, visto que nos comunicávamos apenas com sinais. Por outro lado, assim como haviam momentos de correria e apuro, haviam momentos de completo ócio, sendo esses preenchidos com alfajores diversos e jogos na internet, rs!
Usando os alfajores e a internet como transição, passo a falar de prazeres, que foram basicamente comida, dança e... Bom, falemos somente desses dois, rs. A típica alimentação portenha não é a melhor do mundo. Comi milanesas de carne e de frango por toda uma vida e eram sempre acompanhadas ou por puré de batatas ou por batatas fritas. Não preciso mensurar minha felicidade ao me mudar para perto do trabalho, tendo assim tempo de fazer minha própria comida, correto? Strogonoff, massas, risotos e saladas substituíram as já insossas milanesas.
Como não acordava cedo, e agora morava perto de tudo, comecei a ter tempo pra sair, e tirei o atraso saindo de quarta a domingo nos últimos 2 meses. Saindo sempre para dançar, seja salsa, samba ou zouk (este o mais apreciado pelo meu grupo de conhecidos), pude ter uma visão diferente, e mais prazeirosa da dança. Pela primeira vez dançava sem obrigação, exclusivamente por prazer. Em Buenos Aires não exercia profissão relacionada a isso, não tinha compromissos, regras ou deveres. Não tinha que agradar a ninguém, não tinha obrigação de ter sempre um sorriso, e não me pesava na consciência não tirar todas as mulheres pra dançar, escolhendo somente aquelas que tinha vontade. Mulheres, um caso a parte nesse lugar, voltaremos a esse assunto. Esse alto índice de frequência nas noitadas portenhas se devem a pessoas a quem devo sinceros agradecimentos: a Marcelinho, que além de me convidar a suas festas me ajudou muito quando cheguei na cidade, a Cláudio Oliveira, dono da Escola Balaio de danças brasileiras, e a Lety, sua parceira, que me abriram sempre as portas da Lambateria Zouk, incrível festa semanal de zouk, e a Laura e Ruma, que me fizeram sentir como em casa em sua escola e também na aconchegante domingueira de forró realizada no charmoso bairro de palermo, a eles fiquei devendo um almoço.
Histericas. Assim os homens argentinos definem a mulher portenha e para uma minoria todas as argentinas. Para eles, entretanto, essa palavra não carrega o mesmo significado que para nós. Histéricas são as mulheres que se fazem de difícil, ao extremo, iniciando algo como um jogo, em que o homem tem que insistir e insistir, até que elas achem que é o momento de dizer sim. E assumo que conheci mulheres assim. Divertidíssimo se não se cria expectativas. Não é difícil perceber que ao recusar um convite seu, ela espera, obviamente, que a convide novamente em um outro momento. Ao perceber isso entrei em alguns jogos e me diverti um bocado tratando de jogar também, mas foi só isso, afinal prefiro e creio que sempre preferi, mulheres simples e decididas. Mas se você vier para a Argentina deixo o conselho, cuidado, apaixonar-se de uma mulher histérica é roubada na certa, rs. Deixo claro também que há muitas exceções a essa regra, e nem todas as mulheres deste país sofrem deste mal, então este não é um tema para se preocupar. Ah, tem muita, muita, mulher bonita aqui, rs!!
Continuando a explanar sobre a personalidade dos argentinos, afirmo que são bastante diretos e frios, parecendo aos olhos dos brasileiros demasiadamente rudes. Tem círculos fechados que são difíceis de entrar, mas, uma vez dentro te tratam muito bem, e perdem grande parte da frieza inicial. Algo que para mim é importante dizer é que, se você gosta do jeito do brasileiro, da comida brasileira e do clima brasileiro, não saia do Brasil só para mostrar um par de fotos do exterior e falar mal do país que esteve visitando. Em minha opinião, alguém que viaja tem que ter a mente aberta a novos costumes e hábitos e não pode esperar encontrar a mesma coisa que em seu lugar de origem. Turistas em geral são incômodos hóspedes que chegam em sua casa para passar dois dias, reviram toda sua geladeira, ficam de cueca em seu sofá, e ainda criticam que você não é tão relaxado e despojado como ele. Se uma pessoa te trata mal, pode ser falta de educação, se todos te tratam assim, pode ser que simplesmente tenham uma educação diferente da sua, e sua alegria e extravagância pode ser igualmente irritante para eles.
Bom, entre muito trabalho, alfajores, jogos histéricos e muita dança, estive até dia 30 de agosto. Alguns fatos isolados também ocorreram nesse período. Dei algumas poucas aulas particulares de dança, encontrei Alexandr, um grande amigo do ensino médio que esteve em Buenos Aires para um torneio de xadrez e o qual esteve parcialmente presente em meu único porre da viagem, ainda tem coisas que não lembro bem como aconteceram - outras não tenho ideia, rs - fiz amizade com um moleque do Rio e outro de Sampa que estiveram a passeio pela cidade. Encontrei com uma amiga portenha que conheci no verão passado em Floripa. Esqueci minha mochila dentro de um táxi e junto com ela perdi um tênis, óculos de sol, perfume e a câmera digital que me presenteou minha irmã e que eu mal havia usado. Sim, sou um otário. Também encontrei casualmente com uma amiga de Curitiba que estava passeando na cidade e coincidentemente entrou na loja e outras coisas dessas que acontecem no cotidiano de todos nós.
No dia 30, pedi demissão para aproveitar uma semana inteira com parte da minha família que veio para me visitar. Minha mãe veio junto com minha irmã Liege e meu cunhado Fábio, que por sua vez trouxeram meu sobrinho Giovanni para que eu conheça. Para quem não sabe, meu sobrinho nasceu no dia 8 de março, exatamente um mês depois do começo de minha viagem, e por isso eu não o conhecia até o momento. E é lindo, loirinho de olhos azuis, sorridente e brincalhão, adora ver o titio tocando violão. Saí do apartamento que estava e fui passar a semana no apartamento que alugaram. Essa foi também minha semana de despedidas, ou seja, as noites foram especialmente boas, daquelas que aproveitamos até o último porque não sabemos se um dia vamos voltar a viver as mesmas. Rodamos por Buenos Aires em uma semana atípicamente fria, e creio que aproveitamos bastante, sobretudo eu, que aproveitei cada segundo pra matar a saudade, mas o que no final das contas me matou foi a nova despedida. Depois que estamos longe algum tempo, acabamos nos acostumando com aquele incômodo sentimento. Mas depois que o afastamos por completo por um período, é bastante difícil saber que voltaremos a sentí-lo.
Eles voltaram pro Brasil no domingo e eu deixei Buenos Aires na segunda. Últimos preparativos, com a ajuda de um amigo, Hernan, comprei uma câmera digital por um bom preço e tomei o trem a Zarate, indo novamente ao norte, oposto de meu atual objetivo, para um casamento: José e Mariela, casal que conheci em Montevideo e que visitei em meus primeiros dias de Argentina. Já em Zarate conversei com minha mãe e ela me passou o telefone de conecidos que tenho na cidade. Fiquei dois dias na casa de Sílvia, amiga de meus pais, nesta pequena cidade e de lá, com duas caronas, cheguei novamente a casa de Mariela na pequena cidade de Concepción del Uruguay. Foram dias incríveis. Desde que saí de Buenos Aires dediquei meu tempo livre a leitura e em 3 dias li dois livros de Tolstoi. Coisa que não fiz em todo o tempo na grande cidade.
Que sensação incrível voltar a ver Mariela e José novamente. Como se fosse uma confirmação da amizade recém construída. Sexta o casamento no civíl e hoje foi a festa. Porém, desde quarta, quando cheguei aqui, não ficamos sem fazer nada em nenhum momento. Encontro com amigos, citando em especial, Mário, Chuli, Adrian (este um viajante caroneiro como eu, com histórias incríveis sobre o sul argentino) e Juan Claus, cervejas em bares e um show espetacular. Murga. Assim como temos as escolas de samba no carnaval, os Uruguaios tem a Murga. São como musicais, altamente teatralizados, em que os temas são históricos, políticos e culturais e sempre tratados com humor. Realmente fantástico. A festa de hoje fechou com chave de ouro, perfeita, comemoramos o casamento das 11 da manhã as 11 da noite. Creio que foi o encerramento perfeito para que eu tenha todo o gás necessário para a próxima etapa da viagem. Na realidade, assim que eu deite a cabeça no travesseiro, vou decidir pra onde eu vou amanhã.
Pra finalizar quero colocar aqui nomes de pessoas que não coloquei acima para não estender em demasia o texto, mas que foram importantíssimas em minha estadia em Buenos Aires e que espero cultivar uma amizade, são elas: Maxi e Paola, do trabalho; Facundo e Ale; Hernan, Iliana, Paola, Lorena, Matias, Pato, Marlene, Javier, Pecas, Catu, Roberta e tantos outros que seguramente não consigo me lembrar as 3 e meia da manhã, mas que quando me lembrar vou me achar um estúpido por haver esquecido. Muito obrigado a todos. É bom saber que mesmo nos momentos que tenho que abandonar a viagem, vou aproveitar a vida de uma maneira diferente e vou ter experiências inesquecíveis como a que tive em Buenos Aires.
Obrigado também ao leitor anônimo que me deu bronca por ficar tanto tempo sem postar, graças a isso que tive a força de vontade necessária para voltar a escrever.
Voltando ao ar,
Andejo.
domingo, 25 de julho de 2010
Comemoração sem Samba
Hoje é o terceiro aniversário deste dia que marcou profundamente minha história. Dia que resolvi dar dois passos para trás e escolher o outro caminho daquela encruzilhada. Dia em que resolvi resolver minha vida.
Reli os dois textos que indiquei a vocês e, como num passe de mágica, trasportei-me à data em que os escrevia, sentindo novamente os sentimentos que sentia nos já descritos momentos. No primeiro ainda vivia o efêmero êxtase da primeira viagem, tendo levado todo o ano internalizando o conteúdo adquirido nos três meses de incrível diversidade que me proporcionou o trajeto Curitiba-Buenos Aires entre 28/07/2007 e 31/10/2007. Já no segundo, estava em um processo de reconstrução interior depois de um ano de desilusões. O motivo que havia feito com que eu desistisse do meu sonho de recorrer o mundo de mochila não foi mais do que um estelionato contra meus ideais. Comprei uma idéia que não era minha, que não dependia de mim e a transformei em meu único futuro possível, único plausível, sem planos "b" ou "c".
Parti então pro meu mais produtivo ano depois de meu renascimento, onde reestabeleci meus verdadeiros ideais, tracei metas práticas e as cumpri de maneira extremamente satisfatória. Fiz o meu tão sonhado curso de mergulho, dias antes do meu segundo aniversário, e seis meses depois, já estaria em um nível bastante elevado com não grande, porém respeitável, experiência. Entrei numa faculdade federal, conceituada, de bom nível, e dei o primeiro passo para cumprir um próximo objetivo, cursando seis meses de uma carreira que pretendo seguir um dia. Fiz também meu desejado curso de barman, ampliando assim minhas possibilidades de sucesso em meus planos futuros.
Finalmente então, com lágrimas nos olhos, voltei a estrada, mal podendo acreditar que estava voltando para casa, para minha verdadeira casa. E a estrada me abraçou de forma acolhedora, como uma mãe, me mostrou que muitas vezes estava errado, como um pai, e me protegeu de seus perigos assim como fazem os irmãos mais velhos. Dessa vez mais preparado, sabia que não haveriam mais propostas tentadoras que me fariam recuar, entendi que eu não poderia seguir outro caminho sem sentir um profundo arrependimento no futuro, seja ele próximo ou distânte.
Digo a vocês que, agora com 19 anos da primeira vida e 3 anos da segunda, não sou mais criança, nem tampouco adolescente. Sempre me disse moleque, maduro sim, mas nunca fugi do fato de ainda ainda não ter entrado na vida adulta. Ocorreu porém algo que já me havia ocorrido antes. Sempre soube, por exemplo, que um dia viajaria e um dia, sem mais nem menos, dei-me conta de que havia chegado a hora e, sem exitar, coloquei uma mochila nas costas e fui sem olhar para trás. Bom, digo hoje que sou adulto. Enfim o momento chegou, mesmo que eu nunca tenha tido uma grande vontade de que ele chegasse. Sinto-me responsável pelos meus atos, e sinto que posso encarar todas as consequências que eles possam me trazer, e ajo sempre conscientemente. É dificil dizer o que mudou, ainda estou descobrindo esse novo mundo, porém sei que estou nesse novo mundo e sei que não há regresso e que as fanfarras da adolescência vão ficar apenas na lembrança, e tenho certeza que sentirei muita saudade dessa maravilhosa época de dúvidas e descobertas.
Felizmente o horizonte desse novo mundo me parece extremamente atraente, e sei que o caminho até ele é fascinante e desafiador. Sei que os jogos agora não serão mais de verdade ou consequencia e sim de atitudes e consequencias, e que não terei intimamente imunidade moral por estar ainda em formação de personalidade, afinal esta está pronta, e mesmo que possa sempre a reformar, não poderei retirar as pilastras que levaram décadas para ser erguidas.
Tudo que disse que aprendi nas duas últimas postagens de aniversário já estão, hoje, intrínsecas em minha forma de ser e agora meu desafio é aplicá-las e transmití-las a todos que desejem conhecê-las.
Agradeço-lhes, por fim, profundamente por seguirem e lerem esse blog, afinal, atualmente, essa é minha forma de compartilhar as experiências que vivo, e por mais que esteja cercado sempre de pessoas dos mais diferentes tipos, tenho neste teclado meu melhor amigo e confidente, e cabe a ele a função de disseminar as coisas pelas quais tenho orgulho.
Sem mais,
Andejo
domingo, 18 de julho de 2010
Vida de um Caroneiro
Um dos principais pontos que despertam a curiosidade dos meus interlocutores quando conversamos sobre minha épica viagem é a arte da carona, sendo superada apenas pela sempre presente pergunta: "O que seus pais pensam sobre isso?"(rs) Para muitos é difícil imaginar como é a sensaçao de ficar na beira de uma estrada com o polegar levantado esperando pela bondade alheia para seguir seu caminho, ou melhor, seguir o caminho da pessoa que te leva!
Com o objetivo de esclarecer um pouco dessa curiosidade e contar também alguns fatos divertidos, e outros nao tanto desse diferente mundo, inicio esta postagem de hoje!
Tudo começa com a cara de pau. Hoje em dia já estou tao habituado que pedir carona é o mesmo que tomar um copo de água, mas afirmo que no princípio as coisas nao sao assim tao simples. Conto a vocês que nunca cheguei a sentir medo, mas já me senti com jeito de otário em ficar parado na beira da estrada fazendo jóia para o além, esperando que alguém interprete esse sinal de maneira satisfatória, oferecendo me levar para algum lugar que nao sei exatamente qual seja.
Em minha primeira viagem, em 2007, caminhei muito antes de ter o espírito necessário para levantar o dedao, e minha primeira carona foi em uma charrete puxada por um cavalo. A segunda foi numa balsa e a consegui conversando e somente a terceira foi com o dedo levantado. Muitas vezes vergonhoso, conto a vocês que já fui muitas vezes motivo de chacota e de admiraçao - assim como admiram macacos no zoológico, rs! Certa vez, assim que terminou o carnaval, consegui uma carona até Garuva, interior de Santa Catarina e ali tentei, na BR-101, uma carona sentido sul. Estava chovendo bastante e a estrada sentido sul estava quase sem movimento. Completamente o oposto da mesma de sentido contrário, que bastante congestionada, tinha os veículos transitando de forma lenta e muitas vezes até totalmente parados. Sinto-me orgulhoso de dizer que fui entretenimento para os entediados entusiastas do carnaval que voltavam lentamente para casa. Crianças pequenas dentro dos carros me olhavam com os olhos quase saindo das órbitas e perguntavam o que aquela pessoa fazia alí parada. Outros gritavam incentivando "BOA SORTE" e fechavam os vidros novamente gargalhando. Alguns outros diziam "Vai a pé" ou "Toma um ônibus", sem ao menos saber o meu destino. O restante passava apenas cochichando entre si e com risadinhas disfarçavam sem sucesso a graça que eu lhes causava enquanto eu seguia congelando na chuva, envergonhado torcendo para que muito em breve alguém parasse e me tirasse daquela sensaçao incômoda.
Primeira dica para um caroneiro: "Tenha cara de pau e nao se importe com as diferentes manisfestaçoes alheias!"
Seguindo, ainda sem passar às caronas de verdade, digo que todo caroneiro deve interpretar os mais variados sinais que fazem os motorístas que por diversos motivos nao irao te levar. Alguns mais discretos apenas levantam o indicador ligeiramente do volante apontando alguma direçao qualquer, enquanto outros fazem sinais que poderiam ser vistos a quilômetros de distância com o mesmo objetivo de dizer que nao vao na mesma direçao que você, como se soubessem para onde você pretende ir. O mais curioso desse tipo de sinal é quando eles apontam pra frente, exatamente para onde aponta a estrada, como se nao fosse aquela a única direçao possível de seguir, tanto para um como para o outro.
Seguindo com os sinais de informaçao de rumo a tomar, ainda há aqueles que, em poucos segundos de comunicaçao muda, tentam expressar todo o trajeto que pretendem seguir, tentando demonstrar curvas e intersecçoes, retornos e outros sinais que para mim seguem incompreensíveis.
Deixando os sinais de direçao passamos para os de incorfomidade ou de sugestao: Aí vêm o típico sinal feito com os dedos indicador e médio apontados para baixo, indo para frente e para tras de forma intercalada e contínua, significando o sempre presente "Vai andando". Também bastante comum é o sinal em que se juntam todos os dedos de uma mao pela ponta e se move o pulso para cima e para baixo duas ou três vezes, separando-se os dedos na última deixando por fim uma das maos na mesma posiçao em que se reza o pai nosso, em gesto típico dos italianos, como uma forma de indignaçao.
Nota: Esse sinal deve ser interpretado juntamente com as impressoes faciais do agente sinalizador:
1. Sombrancelhas juntas e rápido e incompreensível movimento labial: Indignaçao com fúria. Para esse, pedir carona é quase ofensa, rs.
3. Um dos lados da boca ligeiramente levantado, acompanhado com um sorriso e um olhar malicioso e apenas uma das sobrancelhas levantada: Deboche, "Tu nao acredita mesmo que alguém vai te tirar daí, nao?"
Mas o que mais me causou graça, e também remorso, foi quando uma senhora passou e me olhou com um olhar triste, colocou a mao no peito, próximo ao coraçao e com a cabeça ligeiramente inclinada, a moveu em sinal negativo em um comovente: "Perdoe-me sinceramente, mas mesmo me sentindo muito mal por isso nao posso te ajudar!" (rs)
Segunda dica para um caroneiro: "Sinais podem ser divertidos ou irritantes, mas só sao feitos quando a pessoa quer justificar porque nao vai parar. Se estiver impaciente, ignore-os!"
Todos esses sinais e gozaçoes sao feitos nos árduos momentos de espera, que podem ser longos ou curtos, bastante longos ou bastante curtos, diria eu! De novo faço referência a minha primeira viagem. Com meu primo Ralfy, em Sao Gabriel, no inteiror gaúcho, ficamos da 1 da tarde até anoitecer e no dia seguinte toda a manha até as 2 da tarde e nada de carona. Nessa viagem de agora, o maior tempo que fiquei foram 6 horas sem conseguir nada, e minutos antes de escurecer tive sorte de conseguir uma carona que me levou para um agradável lugar onde armei minha barraca e passei a noite. Isso foi entre Atlantida e San Jacinto, no Uruguay. A mais rápida também foi com meu primo. Saindo de Torres-RS, escrevemos POA numa plaquinha e o primeiro carro que passou, cerca de 30 segundos depois, parou e nos levou rumo a capital do estado, deixando incrédulo o policial que nos emprestrou as ferramentas para confeccionar a placa. Mas digo a voces que a média de espera é entre 30 minutos e 2 horas. O que me fascina é que as vezes passa horas em locais que sao extremamente movimentados e outras vezes consegue carona com o único carro que deve existir em um raio de 50 km!(rs) Por isso digo...
Terceira dica para um caroneiro: "Tenha paciência, o tempo de espera nao tem como ser calculado ou previsto."
Mas felizmente a vida de um caroneiro nem sempre é só na beira da estrada - há também os momentos em que se divide o transporte de um desconhecido, indo para um lugar que voce supoe saber qual seja. Porém por mais que isso pareça arriscado é fascinante. Conhecer pessoas de distintas culturas, diferentes classes sociais, diferentes sonhos e opinioes é uma experiência riquíssima e parte indispensável de um todo que necessito para atingir meus objetivos nesta viagem. Tenho certeza que mesmo que se eu tivesse dinheiro e opçao, nao deixaria de viajar dessa forma.
Algumas coisas que devemos levar em consideraçao quando a pessoa nos leva é que estao nos fazendo um favor e como tal, devemos sempre que possivel retribuir tal feito, afinal quase sempre nos dao carona por um motivo. A pouco falei da carona mais rapida que peguei com meu primo, e o motivo pelo qual aquele senhor nos recolheu para levar a Porto Alegre foi que esteve viajando toda a noite e mal podia se manter acordado e, gentilmente, eu e meu primo falamos incessantemente e desesperadamente a todo o instante, retribuindo o favor e enlouquecendo o sonolento motorista. Outras vezes, nos dao carona porque tem longas viagens e lhes custa viajar sozinhos, entao, tendo alguém para conversar parece que o tempo nao custa tanto a passar. É muito divertido também pegar carona com caminhoneiros. Sempre com milhoes de histórias pra contar, suas vidas em geral sao bastante movimentadas e lhes agrada ter um ouvinte bastante atento. Um deles me contou que tinha 4 mulheres e um filho com cada e que uma nao sabia da outra detalhando as artimanhas que fazia para manter o segredo, enquanto um outro me contava os nomes das cafetinas de todos os bordéis de beira de estrada. Houve ainda um outro que deu carona a mim a ao meu primo devido a boa experiência passada, quando conheceu sua mulher lhe dando carona e foi esse mesmo motorista dos gigantes da estrada que me explicou o segnificado da "amanita matutina" da boa cançao "Avohai" de Zé Ramalho, enquanto essa mesma soava a toda altura nos alto falantes de seu caminhao. Interressante também foi quando um caminhoneiro confundiu minha mochila, que estava com minha boina acima com uma criança, e com dó da pobre mochila - ou criança - na chuva, parou para ajudar.
Muitos deles, nao só os caminhoneiros mas também como velinhas e universitarios que me dao carona, classificam-me como louco, outros tantos como corajoso, me convidam a ir a suas casas e me apresentam suas famílias, me pagam lanches e incontáveis vezes me dao dinheiro, mesmo que eu insista que dele nao preciso. Conversamos sobre assuntos íntimos e problemas que os afligem - já reparou como muitos preferem contar seus problemas a desconhecidos? - e nao esperam nada mais de voce do que ser um bom ouvinte, nao precisando voce nem ao menos dizer uma palavra. Já peguei carona com pessoas muito pobres e também com pessoas bastante ricas. Já peguei carona em charrete, mercedes e em um Ford T da década de 20. Empresários, empregados e desempregados, e nao houve um apenas que nao tivesse uma história ou até mesmo uma estória, dignas de serem contadas e ouvidas, e a partir disso deixo a próxima dica:
Quarta dica para um caroneiro: "Nao utilize sua carona apenas como um meio de transporte, aproveite para aprender e ensinar o que puder, e disfrute desses momentos que poucos terao a oportunidade de vivenciar."
Terminadas as dicas, concluo dizendo que esse é um jeito bastante barato de viajar e bastante rico em experiências, permitindo-lhes que descubram fatos e curiosidades sobre cada lugar que passam e torna sua viagem muito mais divertida e interessante.
Perigos sempre existem, mas nao creio que viajar de carona seja mais perigoso do que voltar durante a madrugada de Sao Paulo ou Rio de Janeiro pra casa depois de uma balada, ou mais arriscado que praticar um esporte radical. Para morrer basta estar vivo, e tudo que temos estando em casa, indo para escola, faculdade ou trabalho é uma falsa sensaçao de segurança e, muitas vezes, deixamos de realizar nossos sonhos por motivos que nao condizem com a realidade.
Nao eu, e espero que nao vocês.
Um grande abraço,
Andejo.
PhD em viajar de carona, estando na estrada a 6 meses e tendo percorrido 6500 km em Brasil, Uruguai e Argentina. Por Enquanto... ¡¡¡ hahahahaha !!!
domingo, 4 de julho de 2010
Parágrafos Desconexos
sábado, 12 de junho de 2010
Enfrentando a Realidade
Que saudade de todos vocês! Quase um mes já, não é? Não têm idéia de como sinto falta de minha presença constante nesse lugar em que sempre tão oportunamente posso compartilhar meus pensamentos, anseios, dúvidas e alegrias com todos.
Tenho que admitir que no atual momento o nome escolhido para o blog não combina muito com minha realidade: de andejo pouco me restou, de vadio, só a lembrança de minhas horas intermináveis na beira da estrada a espera de carona.
Muita coisa aconteceu desde minha última postagem e é isso que espero contar nas próximas linhas, que devo admitir serão muitas. Eu sei, não reclamem, gosto de escrever, e tenham certeza de que tento ao máximo achar uma forma de escrever de maneira concisa, sem subtrair completamente a emoção que senti em cada momento e sem omitir os fatos mais importantes. Tampouco escrevo tudo o que vivo, na realidade omito muita coisa – curiosos, perguntem a mim, rs!
Que tal irmos agora ao que interessa? Comecemos pela resposta que deixei pendente na última postagem: Não, não fui e não pretendo ir ao Brasil agora. Nos dias seguintes à proposta realizada por meus pais segui procurando trabalho, até que pudesse chegar a uma decisão. Decisão essa que foi tomada de maneira mais simples do que imaginava dado os fatos que se seguiram. Meu celular começou a tocar e as propostas de trabalho a aparecer: garçom, operador de telemarketing e a que gerou resultado, vendedor.
No sábado dia 22 comecei a trabalhar numa loja de roupas bem bacana! Gente jovem, boa gente. Roupas caras, porém em um bom preço para os muitos turistas que frequentam a calle Florida – aqueles que já estiveram em Buenos Aires seguramente estiveram nesta rua – dada a desvalorização da moeda local. Quase todos os clientes são estrangeiros e seguramente falo mais português e inglês do que espanhol neste lugar, e quando o faço é com chilenos, equatorianos e pessoas de tantos outros lugares desse mundo todo.
Buena onda, como costumam dizer aqui, comecei vendendo bem, passei por longos momentos solitários organizando estoques e tive a possibilidades de conhecer pessoas novas por aqui. Estou atingindo meus objetivos: a poucos dias recebi meu primeiro salário, que foi apenas a fração trabalhada do mês, mas foi agradável receber dinheiro de um lugar que não seja o impessoal caixa automático – quem acompanha o blog sabe a quanto tempo busco um trabalho. Também estou tendo a oportunidade de treinar idiomas, hoje posso com orgulho dizer: “Falo fluentemente três idiomas: português, inglês e espanhol!” E agora sigo em busca do próximo, já averiguei algumas ilhas caribenhas que falam francês, quem sabe mais pra frente não arranjo um trabalho por lá?!?!
Uma outra novidade é que ganhei alguns presentes vindos do Brasil! Repararam que estou escrevendo em bom português, com acentuação, cedilha e tudo mais? Isso porque ganhei um netbook da minha irmã Vanessa e de meu cunhado Fernando, então, se agora encontrarem erros por aqui, atribuam-los à minha ignorância. Ganhei também uma câmera digital de minha outra irmã Liege e de meu cunhado Fábio e enfim os momentos vividos poderão ser devidamente compartilhados. De meus pais, que nunca deixariam de se fazer presentes recebi um par de roupas que vem a ser muito úteis nesse momento de estabilidade - trabalhar todos os dias com a mesma roupa não estava pegando bem. Saibam que em questão de utilidade todos os presentes competem pau a pau.
Estou vivendo um novo momento na viagem, e se futuramente quiser escrever um livro, já começo a ter uma noção de como organizá-lo. Em minha primeira viagem, saí de maneira bastante precipitada e trabalhei diversas vezes em trabalhos curtos para poder continuar viajando. Dessa vez é diferente. Esse trabalho e essa temporada que devo passar em Buenos Aires pra juntar mais uma graninha, fazem-me sentir preparado para a longa jornada que devo enfrentar. Os dois primeiros momentos ficaram para trás, o primeiro, de euforia e adrenalina e o segundo de medo e tristeza. Chamaria esse terceiro momento de “enfrentando a realidade”. Sei como estou e sei, relativamente, o que me espera adiante. Estou muito feliz e satisfeito. O momento é próspero por mais que alguns sustos sejam inevitáveis.
Dias atras estava feliz e contente em meu trabalho, pensando em uma forma de conseguir um bico para juntar um pouco mais de dinheiro quando entrou um homem, aparentemente um cliente, e lhe digo rotineiramente “hola, que tal, puedo ayudarte?” Ele me reponde, em tradução livre: “Claro, eu sou do ministério do trabalho e vim fazer uma inspeção (mostra sua identificação). Gostaria de saber se estão registrados, se o salário de vocês é adequado e se todas as questões trabalhistas estão sendo respeitadas?” - Com certeza fiquei branco e meu primeiro pensamento foi: “Putaquepariucaralhoporra, vou ser deportado da Argentina!!!!” mas o que saiu da minha boca foi: “Claro, não há problema! O gerente não está, mas o dono está aqui ao lado, chamo-o e volto num minuto.” Pensava que estava branco, mas duvido que tanto quanto meu chefe quando lhe dei o recado que havia uma inspeção trabalhista na loja. Rapidamente lhe sugeri dizer que eu estava fazendo apenas um teste e que, obviamente, estava com a documentação em trâmite. O funcionário público, que aparente pouco se importava com a verdade e devia querer se livrar o mais rápido possível do incomodo trabalho engoliu a história como se estivesse tomando um belo gole de cerveja gelada num quente dia de verão. Disseram-me que isso não vai dar em nada e eu ingenuamente acreditei. Espero que minha ingenuidade esteja certa. Se passar incólume por isso será mais uma de minhas histórias para contar!
Changing the subject, estou agora procurando um lugar para me mudar, afinal todo mundo merece um pouco de privacidade! Digo isso tanto por mim quanto pelas pessoas que me hospedam, que aposto não me suportam mais (mentira, eles me amam!!!hahaha). Seguramente expressei minha risada dessa forma pelo efeito dos drinks que estou tomando enquanto escrevo para vocês: já passaram pela mesa um Manhatan, uma Cuba Libre e o Mojito já está pela metade. Sim, agora que tenho um netbook estou escrevendo da mesa de um bar depois de um cansativo dia de trabalho. OBRIGADO VANE E FER!!!!! Ahhh mãe, nem vem, até que sou um filho responsável.
Minha preocupação no momento é como assistir as partidas do Brasil e continuar vivo no dia seguinte... bem... continuar vivo não é tão importante... o principal é assistir as partidas!!! Mas descobri que neste bar que eu estou vão transmitir os jogos.
Bah, sinceramente, já falei demais!!! Amo todo mundo, estou ligeramente afetado pelo alcool, levando-se em consideração que não como há um bom tempo, e estou cansado. Amanhã trabalho cedo e tenho que dormir. Como aqui não tem internet provavelmente só postarei amanhã (hoje para vocês).
Fora isso boa noite!
Ligeramente alterado (não mãe, bêbado não),
Andejo
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Ir ou nao ir? Eis a questao!
Próximo a completar 100 dias de viagem, fato que ocorrerá amanha, sigo me surpreendendo. Diferente do que imaginava, estar 'parado' em uma cidade nao transformou minha vida em uma rotina - na realidade, nao passou nem perto disso - assim, diferente do título, guardo os assuntos relatados na mesma postagem citada acima para um momento mais propício.
Em Buenos Aires há muito trabalho. Algum para mim? Ainda nao sei. Os jornais estao repletos de anúncios, e a internet recheada de oportunidades e eu estou correndo atrás. Espalhei meu currículo pela cidade e pela rede e agora fico na torcida para que o esforço gere resultados. Algo já começou a acontecer, por mais que pouquíssimos dias tenham passado. Já fiz um free de barman em uma balada aquí em Lanús (regiao que estou hospedado na grande Buenos Aires), e amanha tenho uma entrevista para trabalhar de garçom em festas e eventos, porém, nada mais estável e constante tem surgido como opçao.
Nessas andanças todas pude reavivar como é uma cidade grande de fato. Com seus 16 milhoes de habitantes, a capital argentina transpira agito - e se respira poluiçao. Poluiçao essa que é gerada em parte pela imensa quantidade de veículos que tornam o trânsito um caos completo. Caos esse que estimula, inevitavelmente, o uso constante e irritante das buzinas. Buzinas essas que sao a marca registrada dos portenhos - no interior do país, sempre que alguém recorre a buzina, se ouve a sentença: "Deve ser da capital!"
As ruas, ônibus e metrôs estao sempre cheios, independentemente do horário. Se encontra aqui diversidade de opçoes durante toda a madrugada. Quer um cachorro quente feito por um coreano muçulmano as 4 da manha? Aposto que se procurar bem o encontra. Falando em diversidade, creio que essa seja uma boa definiçao para cidades grandes em geral. Ontem estive em uma Lan House que tinha como atendente uma oriental (nao sei dizer de onde) que praticamente nao falava espanhol, indicava qual computador utilizar através de plaquetas com números e todo o mais dizia através de gestos.
Porém essa diversidade gera uma infinidade cultural invejável e basta andar pela avenida Corrientes com seu número incalculável de teatros, colados uns aos outros, para se notar isso. Músicos estao espalhados por todos os cantos. Bandas com 5 ou 6 músicos espalham tango, jazz, rock e bossa pelos calçadoes com seus saxofones, trompetes e trombones, quando por acaso nao se cruza com um piano que sabe deus como foi para ali. As estaçoes de metrô têm programaçoes culturais, que incluem música, teatro e dança, e nao é dificil encontrar um museo abaixo do solo por aqui.
Nao vou ser redundante em falar sobre a segurança em cidade grandes da América Latina.
Deixando de falar sobre a cidade e voltando a falar sobre mim, posso afirmar que estou feliz. Já encontrei alguns amigos por aqui, por mais que tenha ainda alguns outros para procurar, e estou tratando de fazer também novas amizades. Encontrei por exemplo Horácio, o senhor que me deu carona em Colonia del Sacramento no Uruguay e me levou para conhecer seu museu de automóveis antigos. Encontrei também uma amiga, Natali, que me prometeu juntar todas as garotas que foram juntas a Florianópolis e que conheci durante minha temporada de trabalho na escola de mergulho no último verao para uma balada. Fui novamente a um lugar que a muito esperava a oportunidade de reencontrar, Maluko Beleza, um bar brasileiro que marcou profundamente minha primeira viagem, e tive a boa sorte de reencontrar algumas antigas amizades por lá. Tudo isso transformou em extremamente agitados meus primeiros dias nesta incrível cidade.
Porém algo hoje abalou minha agitade tranquilidade, rs. Minha mae esteve nos últimos dias buscando uma forma de me mandar algumas coisas, que me serao extremamente úteis, junto com alguns presentes que me deram minhas irmas com seus maridos, e tenho que dizer que falhou em encontrar. Provável que inconscientemente, baseado no conhecimento que tenho sobre meus pais, arquitetaram um maquiavélico plano.
Começaram dizendo que viriam me trazer a bagagem pessoalmente, o que, por mais insano que pareça, me pareceu uma idéia agradável - nao exatamente uma boa idéia, deixo claro - já que teríamos a oportunidade de matar a saudade mutuamente. Porém, pensaram e disseram que nao têm dinheiro suficiente para os dois, entao apenas um dos dois viria. Alegando que nao seria justo com o que ficasse e apelando para o sobrinho que ainda nao conheço, sugeriram que eles pagassem minhas pagassens, ida e volta para Buenos Aires, ao invés de pagarem a de um deles, para que eu vá pessoalmente "pegar as minhas coisas". Como argumento, me mostraram os descontos que tornam a viagem entre Buenos Aires e Curitiba mais barata que o trecho Curitiba-Sao Paulo e me disseram que com uma semana lá poderia pagar facilmente a viagem para eles, se assim eu desejar, dando algumas aulas para antigas alunas.
Sinceramente nao sei o que fazer. Admito que fui pego desprevenido e tenho que pensar a respeito. A oportunidade de passar uma semana em casa, matar a saudade da família e dos amigos, conhecer meu sobrinho é realmente tentadora, porém nao sei os efeitos que isso poderia causar em minha viagem. Como disse no princípio espalhei currículos por todos os lados e nao gostaria de perder as escassas oportunidades que possam aparecer, além do que me parece um pouco hipócrita de minha parte gastar em passagens metade do que gastei em 3 meses de viagem, por mais que estaria gastando um dinheiro que nao é meu. Quanto dinheiro vale matar a saudade daqueles que ama? Em questao de duas horas já estive decidido a ir, a nao ir, a ir novamente e no momento estou inclinado a nao ir, mas escrever esse texto está me mostrando que talvez ir nao seja uma má idéia.
Vou me dar um tempo para pensar, por mais que meu pai queira que eu decida rápido - por ele, tomaria o aviao amanha; nao, nao estou brincando e nem exagerando - e seguirei o conselho de minha irma de colocar os prós e contras no papel. Assim que tomar a decisao deixarei que voces fiquem sabendo.
Bom, com muito para pensar e sem mais o que escrever, me despeço de todos com um grande abraço e como diria Willian Bonner: "Boa Noite"!
Hasta pronto,
Andejo.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Vida Louca Vida
Vida louca vida
Vida breve
Já que eu não posso te levar
Quero que você me leve
Minha viagem neste momento nao está exatamente inspiradora, ou talvez eu que nao esteja inspirado com minha grande viagem. O que sei é que no momento esta faltando alguma coisa que nao sei exatamente o que é, entao sigo olhando para todos os lados na experança de encontrar o elo perdido.
Passei meus últimos 15 dias em Rosário, na província de Santa Fé. Cidade Maravilhosa, mesmo que incomparável com a cidade brasileira proprietária do mesmo título. Nao muito grande em tamanho e populaçao - algo cerca de 2 milhoes de habitantes - muito se assemelha com uma metrópole. A cidade nao dorme. Existem inúmeros pubs e clubs e 'bs' de todos os tipos e gostos. Tango, salsa, música eletrônica, cumbia, reggaeton, blues, rock, jazz e tudo o mais que se desejar se encontra por aqui. O agito mesmo fica guardado de quinta a domingo, porém diferente dos 2 milhoes de habitantes de Curitiba, os daqui sempre amanhecem na balada - aqui as pessoas chegam nas baladas ao mesmo horário que fecham as da cidade ecológica, rs.
Visitei também vários museos, em sua maioria gratúitos, parques e tive suficiente tempo para caminhar por toda a cidade. Conheci pessoas incríveis por aqui também, algumas no hostel em que fiquei nos 3 primeiros dias, entre eles israelenses, franceses, espanhóis, italianos e americanos e outras depois de ficar os dias restantes na casa de Sebastian, um novo velho amigo, daqueles que estou me acostumando a fazer na viagem. Reencontrei também Alícia, minha avó argentina que estava morando em Rosário, para minha boa surpresa.
Enfim, tive maravilhosos dias nessa cidade, porém algo faltava... dinheiro! E como procurei! Nao exatamente dinheiro, mas sim trabalho. Entreguei um bocado de currículos em todos os bares e restaurantes que encontrei, porém enquanto Dionísio me abençoava com muito vinho e festa, Hefesto desviou os olhos dos trabalhos pretendido a mim.
Sendo assim, enfim voltei ao meu plano original que era buscar trabalho em Buenos Aires. Andrew, um americano que conheci na casa de Sebastian também estava com o destino traçado e decidimos ir juntos de trem para a Capital Argentina, e que viagem. O trem pulava dos trilhos mal conservados a grande velocidade e todos amaldiçoavam o maquinista. Parava em todos os lugares possíveis e imaginaveis, fazia frio durante a noite e calor durante o dia e demoramos 9 horas para percorrer os 300 km entre Rosário e a cidade portenha. Mas as poltronas eram confortáveis, rs.
Chegando aqui novos sentimentos se despertaram e a partir daqui será tudo realmente novo para mim. Já estou alojado na casa de um amigo e hoje começo a procurar trabalho. Estou reformulando minha viagem e decidirei nos próximos dias novos prazos e destinos, que nao serao tao alterados assim.
Bom, quando se está parado em um local nao se tem tanta coisa para contar, mas ja tenho alguns assuntos interessantes com que entreter voces enquanto minha rotina nao se torna por si só atraente o suficiente para prender sua atençao. Aguardem e confiram.
Espero voltar aqui em breve. Grande abraço,
Andejo
segunda-feira, 26 de abril de 2010
Curiti...digo...Córdoba
Pero bueno, antes preciso relatar de forma rápida como cheguei a esse lugar, começando de onde parei na última postagem, ou seja, o pedágio Vitória-Rosário e os 'companheiros' de piquete da Sutracovi
Após terminada a manifestaçao, já na tarde de quarta-feira, alguns manifestantes filiados a Sutracovi que eram de outra praça de pedágio me levaram com eles na volta para casa, uns 60 km em direçao a Córdoba, até uma outra praça de pedágio onde seria mais fácil achar alguém que tivesse o mesmo destino que eu. Entretanto 'mais fácil' nao necessáriamente significa 'fácil' e nesse pedágio tremi de frio até o princípio da noite. Graças a ajuda de uma atendente do pedágio, porém, um caminhoneiro parou e me levou até Río Primero, pequeno povoado a 50km de Córdoba. Viagem muito longa e cansativa, com o caminhao a nao mais do que 70 km/h levou uma eternidade para chegarmos ao nosso destino e ali chegamos por volta de meia noite e meia. Congelando de frio, extremamente cansado e resignado, decidi buscar um hotel, e pela incrível lei de Murph, na primeira vez que procurei abrigo pago em um lugar, nao haviam vagas. Um pouco consternado com a falsa impressao - verao a seguir - de falta de sorte, caminhei aleatoriamente pela fria cidade durante sua serena noite de outono até encontrar, enfim, uma luz acesa - um kiosco, comércio que se assemelha a um mercadinho no Brasil, que por sorte era 24 horas.
Imaginem a cena: Um mochileiro, com uma mochila de 75 litros nas costas, com uma de 35 litros no peito e com um violao no ombro, tremendo de frio, entra em uma pequena venda, onde estavam 4 pessoas do pequeno povoado com nao mais de 5 mil habitantes, perto das 2h da madrugada.
Os 4 entao se calaram me olharam, se entreolharam, e entao, com forte sotaque Cordobês, responderam ao meu cumprimento e com tato comecei a conversar com todos, conversa essa que se estendeu por um bom tempo. Um deles era um rapaz de uns 30 anos que junto com seu irmao era o dono do kiosco, e me disse, após eu afirmar que meu destino era Córdoba e nao a pequena cidade, e que nao continuaria a viagem naquele dia pois viajava de carona e era praticamente impossível que me levantassem a noite, que ele mesmo iria na manha seguinte a capital resolver uns assuntos particulares e me levaria se fosse do meu interesse. Rapidamente acertamos detalhes, ele se foi dormir e eu fiquei protegido do frio no kiosco, já descrente da falta de sorte. Na manha do dia seguinte finalmente cheguei a segunda maior cidade da Argentina, Córdoba, com seus cerca de 3 milhoes de habitantes e finalmente, fato que ha tempos nao ocorria, vi muita gente e movimento de verdade nas ruas.
Na primeira noite fiquei na casa de um rapaz de minha idade, professor de tango, que logo se animou com meu conhecimento em danças brasileiras e me apresentou pessoas, entre essas, Grillo, dono do Yoruba Dance Company. Aqui enfim chegamos a segunda parte do título da última postagem, lugar esse que foi o motivo da minha larga permanência em Córdoba. Eu, Pablo, Anahí, professora de ritmos brasileiros da escola e Grillo armamos rapidamente um workshop de Samba de Gafieira e Zouk para a sexta-feira seguinte, significando que ficaria muito tempo na cidade.
Enquanto eles se preocupavam em fazer a publicidade eu relaxaca, conhecia a cidade e preparava Anahí para me ajudar nas aulas. Foram 10 dias em Córdoba, dividindo os dias em maravilhosos, normais, entediantes e interessantes.
Já no segundo dia me mudei de casa. Me hospedei na casa de Ricardo, um advogado que trabalha de juiz numa cidade a 50km de Córdoba. Um belo apartamento, extremamente organizado. Completamentes diferentes, mas tendo em vista o grande respeito das duas partes a opiniao alheia, essa diferença, ao invés de se tornar um problema, se tornou motivo de grandes conversas e indagaçao e isso muito me alegrou. Ter a possibilidade de conhecer idéias e ideais distintos, pontos de vista de um outro país, outras formas de se viver, compartilhar a paixao de viajar, vividas de formas tao diferentes pelos dois interlocutores e outros mil assuntos mais, desde ocultismo até direito internacional, nao podendo deixar de citar a música, paixao também dividida pelas duas partes, tornaram partes dos dias nesta cidade interessantes.
Porém outra parte nao foi tao boa. A impossibilidade de gastar dinheiro e o excesso de tempo livre tornaram parte dos dias extremamente entediantes, e permiti que isso me prejudicasse. Confesso que poderia ter conehcido mais da cidade, entretanto estava cansado, no momento, de monumentos e praças, e se nao fosse para conhecer a vida cotidiana das pessoas da regiao, nao saia de casa, passando assim muitos momentos em casa, assistindo, por exemplo Caminho das Indias dublado em espanhol, aqui chamado de "India, Uma História de Amor". Incrédulo, ficava rindo sozinho a todo instante: é pior que novelas mexicanas dubladas em português.
Nao posso, todavia, apenas reclamar. Fui a baladas, teatros e milongas - bailes onde se dançam 3 estilos típicos argentinos: tango, milonga e vals - e o melhor, todos de graça. Dancei salsa em baladas até a exaustao, dancei tangos e milongas na Plaza San Martin, assisti a espetáculos impressionantes em lindos teatros, visitei igrejas e museus. Tudo isso tornou grande parte dos dias maravilhosamente agradáveis.
Creio que nao necessito falar sobre a normalidade dos dias normais.
Bom, sexta-feira enfim chegou, dei as aulas, fiz algum dinheiro, porém me enrolei para ir embora e fiquei até domingo de manha em Córdoba. Na própria sexta fui novamente a uma salsa onde me acabei de dançar novamente, e no sábado nao fiz nada de útil. Ao menos tive muita sorte na hora de sair da cidade. Ricardo me levou até a Ruta 9 que leva direto a Rosário, que era meu objetivo no momento e em menos de 10 minutos parou um carro que ia para Buenos Aires, ou seja, fiz os 400 km que separam as duas cidades somente com uma carona.
Agora estou num hostel em Rosário. Pela primeira vez na viagem gastando dinheiro com estadia, mas logo parto para Buenos Aires e enfim buscarei de fato um trabalho, torçam por mim!
Rosário é uma cidade linda e agradável, mas conto como foi por aqui na próxima postagem!! (Isso tá virando novela, rs!!!)
Um grande abraço a todos e muito obrigado pela força que têm me dado!
Andejo
quinta-feira, 15 de abril de 2010
De Sutracovi a Yoruba
Eu esperava ansiosamente pela chegada de José e Mariela na manha de terça-feira, mas nao foram eles que chegaram e sim a mae de José. Me disse que seu filho e sua nora iriam partir para outra viagem sem passar em casa, e disse que me levaria até a estrada onde eles passariam, para eu aproveitar a carona para seguir meu destino.
Apressadamente coloquei as coisas dentro da mochila e em menos de meia hora subia novamente no caminhao de José, desta vez a última. Consegui pegar algumas fotos com eles e viajei uns 60 Km em direçao a Córdoba, meu objetivo. A despedida foi bacana, demonstrando os dois lados que uma nova amizade havia sido construída. Sentirei saudades desse casal.
Isso é uma das muitas coisas difíceis que estrada nos proporciona. Encontro pessoas que salvam minha vida a todo instante, que me alimentam, arranjam-me abrigo em uma noite chuvosa, apresentam-me pais, esposas, filhos, amigos, vizinhos e cachorros. Nao mais do que em um momento se cria um forte vínculo emocional, paterno, fraterno; me acolhem em seu círculo mais íntimo e familiar. Porém em dias, horas ou apenas em minutos eu sigo caminhando, novamente perdido em pensamentos; e as despedidas... nao podem imaginar como sao dolorosas, como sao aquelas que dedicamos aos amigos mais próximos. Fico imaginando se um dia poderei reencontrar essas pessoas que me ajudaram sem esperar nada em troca, e tenho também a certeza que ficam eles, que me vêem partindo caminhando para longe, imaginando o que teria acontecido com aquele jovem andarilho.
Desci entao do caminhao, assim como qualquer pessoa desce do carro de um amigo depois de uma noite de festa e caminha em direçao a sua casa; a minha é negra, normalmente pintada com faixas amarelas ou brancas e a cada dia que acordo vejo pela janela uma paisagem diferente. E como saindo mais um dia pra trabalhar, subi em um Uno de um policial que viajava com sua mae. Em mais uma efêmera amizade, iniciada a partir do gosto em comum pela música, me convidou para almoçar em sua casa, em Tala, ainda na província de Entre Ríos. Comi como se estivesse em minha casa e entao Carlos, como era chamado o policial me levou novamente para a estrada, onde em pouco minutos fui levado por um caminhoneiro e sua esposa alguns quilômetros a frente onde constatei sinais que meus próximos momentos nao seriam fáceis, gotas começaram a cair do céu.
Quando a chuva veio de verdade me abriguei em uma cabine da polícia caminera, equivalente a nossa rodoviária, que jazia desocupada a beira da Ruta 39. Mas a chuva nao durou e logo subi noutro Focus até Vitória, última cidade entre os ríos Paraná e Uruguay. Apenas uma estrada concessionada me separava da Província de Santa Fé, porém me separou por mais tempo e de maneira completamente inusitada.
Outro caminhoneiro, este Cordobês, com sotaque muito distinto do que havia encontrado até aqui me levou de Vitória até a praça de pedágio da rodovia citada acima e como chegamos já durante a noite, nao consegui carona em direçao a Rosario. Estava agasalhado o máximo que podia, mas mesmo assim o vento passava congelando até minha alma, e para ajudar, voltou a chover, e nao parou mais. Me abriguei em baixo da praça de pedágio, onde estava acontecendo uma manifestaçao: os trabalhadores, filiados a Sutracovi, estavam em greve. As cancelas estavam todas abertas, os trabalhadores batucavam tambores e os motoristas passavam buzinando e eu ali, com fome, frio e sono, mas nao por muito tempo.
Um dos trabalhadores reparou naquele curioso garoto que tremia incessantemente e foi com ele trocar dois dedos de prosa. A prosa rendeu e o trabalhador, chamado Alexis, convidou o garoto a se juntar aos outros trabalhadores, que comiam um churrasquinho de frango, assim acabando com a fome que ele sentia, que tomavam vinho e fernet ao lado de uma fogueira, acabando assim com o frio que o cortava, e mais tarde, depois de muita festa, música e conversa, arranjaram também ao garoto um local abrigado para passar a noite, desejando-lhe um bom sono. Assim o foi, e o garoto, um andejo vadio perdido numa estrada argentina, fez novamente novas amizades.
Acordei no outro dia, sabendo que aquilo tudo podia nao ter passado de um sonho delirante de um desamparado, porém, sempre consciente, sabia que nao o era, e sim sabia que a sorte, que ditados sempre dizem que acompanha os aventureiros, nao tinha me excluído da lista de beneficiados. No outro dia café da manha seguido por um delicioso churrasco e discursos impressionantes sobre política seguiram por toda manha e parte da tarde. Um banho foi o divisor de águas.
Enquanto os trabalhadores se reuniam em uma assembléia fui tomar um delicioso banho quente. Quando sai do banheiro tudo estava diferente: o sol, escondido por densas nuvens a alguns dias estava de volta, tornando dispensáveis as blusas que usava, tambores nao mais tocavam, faixas de protesto nao mais podiam ser vistas e as cancelas voltaram a trabalhar, o protesto havia terminado e com ele minha estadia no meu Hotel Pedágio Vitória-Rosário. Fui convidado a ir a outro hotel, já que uma nova paralisaçao teria início no dia seguinte em outra praça, porém o norte da minha bússola apontava em outra direçao, Córdoba, cidade que chegaria no dia seguinte, e que estou no momento. Porém as histórias dessa cidade e de Yoruba ficam para uma próxima postagem.
To be continued...
Abraços,
Andejo.