O Andejo Vadio: setembro 2011
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"I always wonder why birds choose to stay in the same place when they can fly anywhere on the Earth. Then I ask myself the same question."
(Harun Yahya)

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A Volta do Filho Pródigo... ou Quase!

Carretera Austral

Uau! Faz tempo, não? Mais de dois meses sem dar sinal de vida por aqui e nesse tempo muita coisa aconteceu! Preparem-se para uma longa postagem.

Esse tempo afastado do blog se deve principalmente a uma grande mudança de pensamento. A saudade de casa começou a apertar e já não podia desfrutar como antes as novidades que esse mundo de aventuras me trazia e por muito pouco não abandono a viagem e volto pra casa mais cedo.

Senti que o aprendizado já não era mais o mesmo do começo dessa viagem, quando sentia que a cada minuto me enchia com mais e mais sabedoria e comecei a indagar se valia a pena seguir longe de tudo que abandonei para seguir em uma viagem sem aprendizado, por puro turismo.

Pensei e repensei o que estou fazendo inúmeras vezes, sentado, caminhando de um lado para o outro, conversando sozinho em voz alta ou pedindo conselhos para desconhecidos. Cheguei à conclusão de que já cumpri um dos objetivos da viagem: a evolução pessoal. Essa evolução não tem limites e espero não deixar nunca de evoluir, entretanto creio que já alcancei um novo patamar em minha escada ao nirvana e com isso já me sinto satisfeito. Por outro lado, olhava o mapa e não me sentia satisfeito. Mesmo já havendo percorrido quase metade de toda a extensão da América do Sul, visitei apenas 4 países, e sentia que estava muito longe de haver cumprido esse segundo objetivo que era conhecer distintas culturas e países. Mas o que fazer? Os 3 anos previstos para terminar toda a América Latina me pareciam demasiado longos e já não me estimulavam da mesma maneira. Que difícil! Porém, encontrei a solução.

Em primeiro lugar, coloquei um prazo. Quero voltar ao Brasil até o final de agosto do ano que vem, para o casamento de um amigo no qual serei padrinho. A principio iria ao casamento e depois voltaria aonde estava para seguir com a viagem, mas essa me pareceu a oportunidade perfeita de colocar um limite nessa minha loucura.

Definida a data de volta ao lar, coloquei novamente meus olhos no mapa: ainda falta muita coisa e esse prazo de 1 ano não será suficiente para ver tudo. Esse novo fato foi resolvido com 2 medidas, sendo a primeira mais dolorosa: Cortei dos planos a América Central e o Caribe. São lugares que eu gostaria muito de conhecer. Cuba, Jamaica, Panamá, Trinidad e Tobago. Mas alguém que quer crescer em diferentes áreas tem que tomar determinadas decisões. A segunda medida foi acelerar o passo. Não pararei mais para trabalhar a menos que sejam casos de extrema necessidade, não pararei por tanto tempo em cada lugar e tentarei visitar menos cidades em cada país. Com isso espero poder recorrer o que me falta da América do Sul no prazo estipulado. Então ainda podem me esperar no Paraguai, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa. Infelizmente, o resto ficará para uma próxima vez.

Óbvio que não cheguei a essas soluções em uma tarde de reflexão, e todos esses pensamentos me acompanharam por todo o sul do chile, desde Chile Chico na já distante Carretera Austral até Santiago, lugar de onde lhes escrevo agora e são as histórias deste caminho que conto a vocês.

Já comentei com vocês superficialmente que estive em Chile Chico e que fui recebido por Ferdinando no dia de seu aniversário. Nesse já distante 18 de Junho, Ferdinando tinha algumas coisas que organizar e me perguntou se eu gostaria de acompanhar seu primo que iria remar no lago. Prontamente disse que sim e com mais um amigo fomos ao imenso lago General Carrera. Com as águas congelantes, nos cuidávamos para não virar o caiaque, erro que poderia ser fatal dada a temperatura da água. remamos até algumas ilhas e por ali paramos por alguns momentos. O primo de Ferdinando, tirou uma garrafa de Absolut de pera e algumas pedras de gelo e relaxamos em nossos caiaques.

No dia seguinte, como também já comentei, Ferdinando me convidou a viajar com ele pelas cidadezinhas às margens do lago, já que ele teria que fazer esse caminho a trabalho e eu tinha a intenção de percorre-las. Jogamos as mochilas no carro e saímos. Viagem fascinante. A Carretera Austral é sem dúvida nenhuma a estrada mais linda que conheci. Quase toda de terra, cruza campos, corta montanhas e acompanha o lago em muitos trechos e coexiste de maneira fantástica com a paisagem da região. Parece um outro mundo. Em 4 dias visitamos Mallin Grande, Puerto Guadal, Rio Tranquilo, Bahia Murta, Villa Cerro Castillo, Puerto Ibáñez, Puerto Sanchez quando enfim chegamos a Coyhaique. Fui hospedado na cidade por outro primo de Ferdinando, visto que a casa de sua namorada, que também morava na cidade, era muito pequena. Gastei vários dias na cidade e fiz vários amigos. Salsa, churrascos e encontros na casa de um ou de outro marcaram meus momentos neste local. Quase parei aí mesmo para trabalhar, mas infelizmente a proposta alí não foi boa o bastante.











Despedi-me então de Ferdinando e de Giovanna, sua namorada, ambos bons amigos depois dessa curta mas intensa convivência e segui para o norte. Esta parte da viagem foi marcante pela pouca quantidade de veículos que transitavam pela estrada. Esperei inúmeras vezes por horas à beira da estrada sem ver ao menos um carro. 


De Coyhaique a Puyuhuapi fui com duas caronas - a segunda com um motorista que passou todo o caminho tomando piscola, uma Cuba Libre feita com um destilado muito comum no Chile e Peru. Estava preparado para pedir para descer em qualquer lugar quando percebesse qualquer sinal de embriagues, o que curiosamente, não aconteceu. Passei uma noite em Puyuhuapi em uma simpática e muito barata hospedagem, mas no dia seguinte esperei horas até conseguir uma carona, o que me fez avançar muito pouco nesse dia. Cheguei em La Junta super cansado e com quase nada de dinheiro - não existem caixas eletrônicos nessa parte do mundo - e o único local que aceitava cartão era um caro hotel, ao menos para mim. Com o frio apertando, com medo de gastar o pouco dinheiro que tinha e juntando com o momento psicológico que vivia, gastei boa parte de minhas economias no hotel. Um longo banho quente, uma sopa cozinhada no banheiro, uma cama superconfortável e um filme na tv a cabo, desfrutei as comodidades de um mundo estranho para o meu tipo de viagem.


Mais uma longa espera no dia seguinte, o que já era de praxe na Carretera Austral, mas com um golpe de sorte subi a um caminhão guiado por Edson. Um cara simples que subiu na vida com muito trabalho e estava fazendo essa viagem ao sul porque um de seus motoristas havia ficado doente. Ia a Santiago, garantindo assim minha chegada a Chaitén ainda nessa noite. Esse trecho da viagem foi muito agradável e conversamos muito sobre diversos assuntos nas longas horas percorridas em estrada de terra, quando em fim chegamos a uma cidade praticamente fantasma.



Chaitén foi completamente evacuada pouco antes de ser soterrada pelas cinzas do vulcão de mesmo nome em 2008 e dos 7000 habitantes originais, apenas 700 voltaram à cidade até o momento. A eletricidade voltou a cerca de 6 meses e não faz muito tempo que os teimosos habitantes dessa cidade voltaram a ter água encanada utilizável. Acuso esses moradores de teimosia pelo fato de que nunca deveriam haver voltado à cidade visto que o governo chileno iria reconstruir a mesma em um outro local próximo, ação ignorada pelos poucos habitantes que voltaram ao local da catástrofe. Esses 10% da população não reavivaram Chaitén, que ainda preserva as características de cidade fantasma, com pouquissímas casas habitadas, partes soterradas por vários metros de cinza vulcânica e vegetação devastada. Passamos a noite na cidade e na manhã seguinte subi a Don Baldo, a grande balsa da Navimag para cruzar a mágica ilha de Chiloé, sempre acompanhado pela imponente vista do vulcão Corcovado. Mas essa é uma história essa que ficará para a próxima postagem.


    
Grande abraço a todos,

Andejo.