O Andejo Vadio: julho 2010
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"I always wonder why birds choose to stay in the same place when they can fly anywhere on the Earth. Then I ask myself the same question."
(Harun Yahya)

domingo, 25 de julho de 2010

Comemoração sem Samba

Antes de mais nada, sugiro que entrem nos dois links abaixo e leiam seus conteúdos para que possam compreender um pouco melhor a essência da postagem de hoje.
Os textos dos links acima pertencem ao blog da minha primeira viagem e foram postados nos aniversários de 1 e 2 anos do dia em que, com meus 19 anos e 130 reais no bolso, saí para desbravar o mundo com igual determinação a que tenho hoje e ímpeto de um destemido inconsequente.

Hoje é o terceiro aniversário deste dia que marcou profundamente minha história. Dia que resolvi dar dois passos para trás e escolher o outro caminho daquela encruzilhada. Dia em que resolvi resolver minha vida.

Reli os dois textos que indiquei a vocês e, como num passe de mágica, trasportei-me à data em que os escrevia, sentindo novamente os sentimentos que sentia nos já descritos momentos. No primeiro ainda vivia o efêmero êxtase da primeira viagem, tendo levado todo o ano internalizando o conteúdo adquirido nos três meses de incrível diversidade que me proporcionou o trajeto Curitiba-Buenos Aires entre 28/07/2007 e 31/10/2007. Já no segundo, estava em um processo de reconstrução interior depois de um ano de desilusões. O motivo que havia feito com que eu desistisse do meu sonho de recorrer o mundo de mochila não foi mais do que um estelionato contra meus ideais. Comprei uma idéia que não era minha, que não dependia de mim e a transformei em meu único futuro possível, único plausível, sem planos "b" ou "c".

Parti então pro meu mais produtivo ano depois de meu renascimento, onde reestabeleci meus verdadeiros ideais, tracei metas práticas e as cumpri de maneira extremamente satisfatória. Fiz o meu tão sonhado curso de mergulho, dias antes do meu segundo aniversário, e seis meses depois, já estaria em um nível bastante elevado com não grande, porém respeitável, experiência. Entrei numa faculdade federal, conceituada, de bom nível, e dei o primeiro passo para cumprir um próximo objetivo, cursando seis meses de uma carreira que pretendo seguir um dia. Fiz também meu desejado curso de barman, ampliando assim minhas possibilidades de sucesso em meus planos futuros.

Finalmente então, com lágrimas nos olhos, voltei a estrada, mal podendo acreditar que estava voltando para casa, para minha verdadeira casa. E a estrada me abraçou de forma acolhedora, como uma mãe, me mostrou que muitas vezes estava errado, como um pai, e me protegeu de seus perigos assim como fazem os irmãos mais velhos. Dessa vez mais preparado, sabia que não haveriam mais propostas tentadoras que me fariam recuar, entendi que eu não poderia seguir outro caminho sem sentir um profundo arrependimento no futuro, seja ele próximo ou distânte.

Digo a vocês que, agora com 19 anos da primeira vida e 3 anos da segunda, não sou mais criança, nem tampouco adolescente. Sempre me disse moleque, maduro sim, mas nunca fugi do fato de ainda ainda não ter entrado na vida adulta. Ocorreu porém algo que já me havia ocorrido antes. Sempre soube, por exemplo, que um dia viajaria e um dia, sem mais nem menos, dei-me conta de que havia chegado a hora e, sem exitar, coloquei uma mochila nas costas e fui sem olhar para trás. Bom, digo hoje que sou adulto. Enfim o momento chegou, mesmo que eu nunca tenha tido uma grande vontade de que ele chegasse. Sinto-me responsável pelos meus atos, e sinto que posso encarar todas as consequências que eles possam me trazer, e ajo sempre conscientemente. É dificil dizer o que mudou, ainda estou descobrindo esse novo mundo, porém sei que estou nesse novo mundo e sei que não há regresso e que as fanfarras da adolescência vão ficar apenas na lembrança, e tenho certeza que sentirei muita saudade dessa maravilhosa época de dúvidas e descobertas.

Felizmente o horizonte desse novo mundo me parece extremamente atraente, e sei que o caminho até ele é fascinante e desafiador. Sei que os jogos agora não serão mais de verdade ou consequencia e sim de atitudes e consequencias, e que não terei intimamente imunidade moral por estar ainda em formação de personalidade, afinal esta está pronta, e mesmo que possa sempre a reformar, não poderei retirar as pilastras que levaram décadas para ser erguidas.

Tudo que disse que aprendi nas duas últimas postagens de aniversário já estão, hoje, intrínsecas em minha forma de ser e agora meu desafio é aplicá-las e transmití-las a todos que desejem conhecê-las.

Agradeço-lhes, por fim, profundamente por seguirem e lerem esse blog, afinal, atualmente, essa é minha forma de compartilhar as experiências que vivo, e por mais que esteja cercado sempre de pessoas dos mais diferentes tipos, tenho neste teclado meu melhor amigo e confidente, e cabe a ele a função de disseminar as coisas pelas quais tenho orgulho.
É... hoje completa três anos do dia em que resolvi resolver minha vida...

Sem mais,

Andejo

domingo, 18 de julho de 2010

Vida de um Caroneiro

Muita coisa vem acontecendo nesses últimos dias, mas hoje nao é sobre isso que venho tratar. Como prometi desde que cheguei nessa cidade, Buenos Aires, imaginando que passaria apenas um mês e que este seria totalmente desinteressante, vou quebrar um pouco a sequência desse blog focando num ponto importante, divertido, cansativo e curioso dessa viagem.

Um dos principais pontos que despertam a curiosidade dos meus interlocutores quando conversamos sobre minha épica viagem é a arte da carona, sendo superada apenas pela sempre presente pergunta: "O que seus pais pensam sobre isso?"(rs) Para muitos é difícil imaginar como é a sensaçao de ficar na beira de uma estrada com o polegar levantado esperando pela bondade alheia para seguir seu caminho, ou melhor, seguir o caminho da pessoa que te leva!

Com o objetivo de esclarecer um pouco dessa curiosidade e contar também alguns fatos divertidos, e outros nao tanto desse diferente mundo, inicio esta postagem de hoje!

Tudo começa com a cara de pau. Hoje em dia já estou tao habituado que pedir carona é o mesmo que tomar um copo de água, mas afirmo que no princípio as coisas nao sao assim tao simples. Conto a vocês que nunca cheguei a sentir medo, mas já me senti com jeito de otário em ficar parado na beira da estrada fazendo jóia para o além, esperando que alguém interprete esse sinal de maneira satisfatória, oferecendo me levar para algum lugar que nao sei exatamente qual seja.

Em minha primeira viagem, em 2007, caminhei muito antes de ter o espírito necessário para levantar o dedao, e minha primeira carona foi em uma charrete puxada por um cavalo. A segunda foi numa balsa e a consegui conversando e somente a terceira foi com o dedo levantado. Muitas vezes vergonhoso, conto a vocês que já fui muitas vezes motivo de chacota e de admiraçao - assim como admiram macacos no zoológico, rs! Certa vez, assim que terminou o carnaval, consegui uma carona até Garuva, interior de Santa Catarina e ali tentei, na BR-101, uma carona sentido sul. Estava chovendo bastante e a estrada sentido sul estava quase sem movimento. Completamente o oposto da mesma de sentido contrário, que bastante congestionada, tinha os veículos transitando de forma lenta e muitas vezes até totalmente parados. Sinto-me orgulhoso de dizer que fui entretenimento para os entediados entusiastas do carnaval que voltavam lentamente para casa. Crianças pequenas dentro dos carros me olhavam com os olhos quase saindo das órbitas e perguntavam o que aquela pessoa fazia alí parada. Outros gritavam incentivando "BOA SORTE" e fechavam os vidros novamente gargalhando. Alguns outros diziam "Vai a pé" ou "Toma um ônibus", sem ao menos saber o meu destino. O restante passava apenas cochichando entre si e com risadinhas disfarçavam sem sucesso a graça que eu lhes causava enquanto eu seguia congelando na chuva, envergonhado torcendo para que muito em breve alguém parasse e me tirasse daquela sensaçao incômoda.

Primeira dica para um caroneiro: "Tenha cara de pau e nao se importe com as diferentes manisfestaçoes alheias!"

Seguindo, ainda sem passar às caronas de verdade, digo que todo caroneiro deve interpretar os mais variados sinais que fazem os motorístas que por diversos motivos nao irao te levar. Alguns mais discretos apenas levantam o indicador ligeiramente do volante apontando alguma direçao qualquer, enquanto outros fazem sinais que poderiam ser vistos a quilômetros de distância com o mesmo objetivo de dizer que nao vao na mesma direçao que você, como se soubessem para onde você pretende ir. O mais curioso desse tipo de sinal é quando eles apontam pra frente, exatamente para onde aponta a estrada, como se nao fosse aquela a única direçao possível de seguir, tanto para um como para o outro.

Seguindo com os sinais de informaçao de rumo a tomar, ainda há aqueles que, em poucos segundos de comunicaçao muda, tentam expressar todo o trajeto que pretendem seguir, tentando demonstrar curvas e intersecçoes, retornos e outros sinais que para mim seguem incompreensíveis.

Deixando os sinais de direçao passamos para os de incorfomidade ou de sugestao: Aí vêm o típico sinal feito com os dedos indicador e médio apontados para baixo, indo para frente e para tras de forma intercalada e contínua, significando o sempre presente "Vai andando". Também bastante comum é o sinal em que se juntam todos os dedos de uma mao pela ponta e se move o pulso para cima e para baixo duas ou três vezes, separando-se os dedos na última deixando por fim uma das maos na mesma posiçao em que se reza o pai nosso, em gesto típico dos italianos, como uma forma de indignaçao.

Nota: Esse sinal deve ser interpretado juntamente com as impressoes faciais do agente sinalizador:

1. Sombrancelhas juntas e rápido e incompreensível movimento labial: Indignaçao com fúria. Para esse, pedir carona é quase ofensa, rs.
2. Sobrancelhas ligeiramente levantadas com um movimento lento e curto de cabeça para um lado e para o outro: Incredulidade, e mesmo sem mover os lábios se percebe que tenta dizer: "que mer... está fazendo aí?"
3. Um dos lados da boca ligeiramente levantado, acompanhado com um sorriso e um olhar malicioso e apenas uma das sobrancelhas levantada: Deboche, "Tu nao acredita mesmo que alguém vai te tirar daí, nao?"

Mas o que mais me causou graça, e também remorso, foi quando uma senhora passou e me olhou com um olhar triste, colocou a mao no peito, próximo ao coraçao e com a cabeça ligeiramente inclinada, a moveu em sinal negativo em um comovente: "Perdoe-me sinceramente, mas mesmo me sentindo muito mal por isso nao posso te ajudar!" (rs)

Segunda dica para um caroneiro: "Sinais podem ser divertidos ou irritantes, mas só sao feitos quando a pessoa quer justificar porque nao vai parar. Se estiver impaciente, ignore-os!"

Todos esses sinais e gozaçoes sao feitos nos árduos momentos de espera, que podem ser longos ou curtos, bastante longos ou bastante curtos, diria eu! De novo faço referência a minha primeira viagem. Com meu primo Ralfy, em Sao Gabriel, no inteiror gaúcho, ficamos da 1 da tarde até anoitecer e no dia seguinte toda a manha até as 2 da tarde e nada de carona. Nessa viagem de agora, o maior tempo que fiquei foram 6 horas sem conseguir nada, e minutos antes de escurecer tive sorte de conseguir uma carona que me levou para um agradável lugar onde armei minha barraca e passei a noite. Isso foi entre Atlantida e San Jacinto, no Uruguay. A mais rápida também foi com meu primo. Saindo de Torres-RS, escrevemos POA numa plaquinha e o primeiro carro que passou, cerca de 30 segundos depois, parou e nos levou rumo a capital do estado, deixando incrédulo o policial que nos emprestrou as ferramentas para confeccionar a placa. Mas digo a voces que a média de espera é entre 30 minutos e 2 horas. O que me fascina é que as vezes passa horas em locais que sao extremamente movimentados e outras vezes consegue carona com o único carro que deve existir em um raio de 50 km!(rs) Por isso digo...

Terceira dica para um caroneiro: "Tenha paciência, o tempo de espera nao tem como ser calculado ou previsto."

Mas felizmente a vida de um caroneiro nem sempre é só na beira da estrada - há também os momentos em que se divide o transporte de um desconhecido, indo para um lugar que voce supoe saber qual seja. Porém por mais que isso pareça arriscado é fascinante. Conhecer pessoas de distintas culturas, diferentes classes sociais, diferentes sonhos e opinioes é uma experiência riquíssima e parte indispensável de um todo que necessito para atingir meus objetivos nesta viagem. Tenho certeza que mesmo que se eu tivesse dinheiro e opçao, nao deixaria de viajar dessa forma.

Algumas coisas que devemos levar em consideraçao quando a pessoa nos leva é que estao nos fazendo um favor e como tal, devemos sempre que possivel retribuir tal feito, afinal quase sempre nos dao carona por um motivo. A pouco falei da carona mais rapida que peguei com meu primo, e o motivo pelo qual aquele senhor nos recolheu para levar a Porto Alegre foi que esteve viajando toda a noite e mal podia se manter acordado e, gentilmente, eu e meu primo falamos incessantemente e desesperadamente a todo o instante, retribuindo o favor e enlouquecendo o sonolento motorista. Outras vezes, nos dao carona porque tem longas viagens e lhes custa viajar sozinhos, entao, tendo alguém para conversar parece que o tempo nao custa tanto a passar. É muito divertido também pegar carona com caminhoneiros. Sempre com milhoes de histórias pra contar, suas vidas em geral sao bastante movimentadas e lhes agrada ter um ouvinte bastante atento. Um deles me contou que tinha 4 mulheres e um filho com cada e que uma nao sabia da outra detalhando as artimanhas que fazia para manter o segredo, enquanto um outro me contava os nomes das cafetinas de todos os bordéis de beira de estrada. Houve ainda um outro que deu carona a mim a ao meu primo devido a boa experiência passada, quando conheceu sua mulher lhe dando carona e foi esse mesmo motorista dos gigantes da estrada que me explicou o segnificado da "amanita matutina" da boa cançao "Avohai" de Zé Ramalho, enquanto essa mesma soava a toda altura nos alto falantes de seu caminhao. Interressante também foi quando um caminhoneiro confundiu minha mochila, que estava com minha boina acima com uma criança, e com dó da pobre mochila - ou criança - na chuva, parou para ajudar.

Muitos deles, nao só os caminhoneiros mas também como velinhas e universitarios que me dao carona, classificam-me como louco, outros tantos como corajoso, me convidam a ir a suas casas e me apresentam suas famílias, me pagam lanches e incontáveis vezes me dao dinheiro, mesmo que eu insista que dele nao preciso. Conversamos sobre assuntos íntimos e problemas que os afligem - já reparou como muitos preferem contar seus problemas a desconhecidos? - e nao esperam nada mais de voce do que ser um bom ouvinte, nao precisando voce nem ao menos dizer uma palavra. Já peguei carona com pessoas muito pobres e também com pessoas bastante ricas. Já peguei carona em charrete, mercedes e em um Ford T da década de 20. Empresários, empregados e desempregados, e nao houve um apenas que nao tivesse uma história ou até mesmo uma estória, dignas de serem contadas e ouvidas, e a partir disso deixo a próxima dica:

Quarta dica para um caroneiro: "Nao utilize sua carona apenas como um meio de transporte, aproveite para aprender e ensinar o que puder, e disfrute desses momentos que poucos terao a oportunidade de vivenciar."

Terminadas as dicas, concluo dizendo que esse é um jeito bastante barato de viajar e bastante rico em experiências, permitindo-lhes que descubram fatos e curiosidades sobre cada lugar que passam e torna sua viagem muito mais divertida e interessante.

Perigos sempre existem, mas nao creio que viajar de carona seja mais perigoso do que voltar durante a madrugada de Sao Paulo ou Rio de Janeiro pra casa depois de uma balada, ou mais arriscado que praticar um esporte radical. Para morrer basta estar vivo, e tudo que temos estando em casa, indo para escola, faculdade ou trabalho é uma falsa sensaçao de segurança e, muitas vezes, deixamos de realizar nossos sonhos por motivos que nao condizem com a realidade.

Nao eu, e espero que nao vocês.

Um grande abraço,

Andejo.

PhD em viajar de carona, estando na estrada a 6 meses e tendo percorrido 6500 km em Brasil, Uruguai e Argentina. Por Enquanto... ¡¡¡ hahahahaha !!!

domingo, 4 de julho de 2010

Parágrafos Desconexos

Tenho muita coisa pra contar, mas está tudo tao embaralhado em minha cabeça, uma confusao de fatos e sentimentos que está dificil saber com onde começar. Para facilitar começarei por onde costumo começar, respondendo algumas questoes pendentes.

Por sorte nao fui deportado, rs, mas essa questao continua em minha cabeça. No próximo dia 7 vence meu visto, e posso o renovar por mais três meses; amanha pela manha vou na imigraçao resolver isso. Mas o que realmente me preocupa é conseguir a residência argentina e a agora explico o porquê.

Com os três meses mais de visto que posso obter, teria permissao pra ficar por aqui até dia 7 de outubro. Isso me bastaria se eu estivesse disposto a me arriscar no rigoroso inverno patagônico, o que nao é a verdade. Se saio daqui no princípio de setembro, como é meu objetivo, e levando em consideraçao meus cálculos, chegaria em Ushuaia para meu aniversário, 10/10/10. Fora o fato de me parecer interessante estar na cidade mais austral do mundo numa data tao importante para mim é literalmente 10! Entretanto nao posso esquecer o fato de que já teria extrapolado em três dias minha permanência legal. Isso nao seria um problema se eu nao tivesse a intençao de entrar neste país novamente durante a viagem, mas isso também nao é verdade. Encantaría-me a possibilidade de cruzar a fronteira Chile-Argentina mais algumas vezes, uma delas para conhecer o tao famoso, entre os argentinos, estado de Mendonza, fora que, após o deserto do Atacama, eu tenho a intençao de cruzar o norte da Argentina rumo ao Paraguai.

Mas deixemos de pensar nas coisas que nao estao em minhas maos e continuemos com os fatos. O trabalho vai bem, muito bem. Vendi muito mais do que esperava, e muito mais do que esperavam também os donos da loja e, com um mês de trabalho, recebi minha primeira promoçao junto com meu primeiro aumento salarial! Havia me esquecido como é boa a sensaçao de reconhecimento. Deram-me o cargo de gerente substituto, ou seja, vou cobrir as folgas dos dois gerentes das lojas aqui de Buenos Aires. Meu salário aumenta e negociei também uma diminuiçao das horas trabalhadas, de onze passam a ser seis, sobrando mais tempo para viver!!!

E viver um pouco melhor agora que me mudei. O lugar nao é o que posso chamar de um bom lugar, afinal é um pequeno quarto com apenas cama, um guarda roupa de uma porta, uma pequena mesa, cadeira e dois mínimos criados-mudos. O banheiro fica longe e é compartilhado com outros quartos e a cozinha nao conta com uma geladeria, fazendo-me ter que exercitar a mente com a logista alimentícia. Sinto-me uma personagem de algum livro realista. Já senti também o fato de acordar e só ter paredes para conversar. Mas ainda assim prefiro isso a estar morando de favor em casa alheia. Aproveito para agradecer a América por me receber por tanto tempo em sua casa. Paguei apenas 15 dias nesse novo lugar e estou pensando em buscar algum outro, mas tudo depende da sorte, afinal preciso de um lugar bom e barato, e isso nao é facil de encontrar.

Falando sobre a proximidade que sinto a uma personagem de romance, esclareço que isso é uma real possibilidade. Dizem que um homem só é completo se tiver um filho, plantar uma árvore e escrever um livro certo? Estou pensando em começar pelo último, mesmo tendo a impressao de que já plantei uma árvore em meus dias de escoteiro. As páginas do meu diário estao mais vazias do que deveriam, e nao por falta de experiências vividas e sim por uma incrível indiciplina de seu autor. Estou percebendo que nao tenho o estilo de escrever diariamente algumas linhas, e que me sentiria mais satisfeito escrevendo inúmeras páginas em determinados momentos de inspiraçao. Fora que começar a escrever agora um livro sobre essa viagem seria um tanto mais interessante para mim, afinal, nem mesmo eu posso adivinhar qual é o futuro da viagem e muito menos o desfecho de todos os acontecimento que ainda estao por vir. É algo em que devo pensar.

Bom, que tal agora falarmos um pouco de futebol? Nao dizem que todo brasileiro é um pouco técnico? Mas deixo minhas opinioes sobre a qualidade do futebol brasileiro e me atenho ao fato de ser um brasileiro em terras inimígas em época de guerra. Seguindo essa analogia, informo a vocês que todos os argentinos tinham a esperança de realizar a "Batalha de Normandia" contra os brasileiros, mas que fomos vencidos primeiro e por um longo dia fui tratado como um prisioneiro de guerra, sendo torturado nao com choques mas com infinidades de gozaçoes. Mas como Shuarzeneger em seus piores filmes, dei a volta por cima e respondi com meu silêncio que dizia mais que tudo após a eliminaçao humilhante da Argentina, transformando a seleçao do "Deus Maradona" em pó. O que Maradona fará com todo esse pó agora? Espero que ele se controle!! Depois de ser eliminado do mundial, o único consolo é ver a cara de vergonha dos Argentinos!!

Um assunto que é importante abordar também no dia de hoje é saudade. Ô sentimentozinho que atrapalha, rs! Sinto enorme saudades da família e dos amigos, principalmente nesses momentos de solidao que passo acompanhado do espaço vazio entre minhas paredes. Nao faz muito, até uma foto de meu cachorro me deu um aperto no peito. É dificil saber que as coisas nao param no tempo só porque você nao está presente. O sobrinho que eu nao conheço já está com três meses, minha irma comprou um carro novo, meu pai está realizando o seu antigo sonho de ter um hotel, meus colegas estam terminando o segundo semestre da faculdade e eu estou perdendo tudo isso. Meu Deus!!!! Nunca mais recuso um arroz com feijao, bife e batata frita - pensando melhor acho que eu passo a batata, rs. Por outro lado também sinto uma enorme saudade da estrada. Enquanto sentia aquele cheiro no ar, dias atrás, característico dos momentos que antecedem a chuva, no exato momento em que atravessava uma grande avenida vazia numa madrugada portenha, senti que meu lugar nao é aqui. Num incrível momento de insanidade que durou nao mais de 5 minutos, dizia-me para colocar a mochila nas costas e sair daqui naquele momento. Porém, em algumas coisas o Andejo de hoje se distância daquele moleque de outrora, aprendi a esperar, aprendi que tenho que suportar momentos difíceis para alcaçar meus objetivos, sem nunca deixar de lutar por aquilo que acredito e fugir nao é lutar, nao é mesmo Maria Helena?

E é isso que sigo fazendo, lutando, e muito. Ouço muitas pessoas dizerem que nao deve ser fácil fazer o que estou fazendo e todas elas estao certas, nao é, e acho que isso só fará com que os frutos que colherei depois sejam mais reluzentes e saborosos. E nao tenham dúvida que um coraçao apertado pulsa mais forte, e com o sangue correndo nas veias a toda velocidade, sinto que posso cumprir meus objetivos.

Depois de uma postagem de parágrafos desconexos, novamente agradeço a presença de todos que visitam este espaço, quase 1000 visitas, insignificante no imenso mundo virtual, mas extremamente significativo para mim. Em retribuiçao estou tentando melhorar este local que nao pertence somente a mim. Reeditei o layout com o objetivo de facilitar a vizualizaçao. Coloquei uma forma alternativa de avaliarem minhas postagens já que para a maioria parece ser tao dificil deixar um comentário, rs - sinceridade galera, sem um feedback nao há como melhorar a qualidade. Adicionei também um mecanismo de busca interno e um tradutor há muito reclamado pelas pessoas que conheço na estrada. Espero que essas mudanças tragam uma melhoria para vocês. E, tentarei, no fim de semana que vem, escrever uma postagem diferente, sobre um tópico que quero escrever a algum tempo: "A vida de um caroneiro!" Confiram!

Um grande abraço a todos,

Andejo.