Muita coisa vem acontecendo nesses últimos dias, mas hoje nao é sobre isso que venho tratar. Como prometi desde que cheguei nessa cidade, Buenos Aires, imaginando que passaria apenas um mês e que este seria totalmente desinteressante, vou quebrar um pouco a sequência desse blog focando num ponto importante, divertido, cansativo e curioso dessa viagem.
Um dos principais pontos que despertam a curiosidade dos meus interlocutores quando conversamos sobre minha épica viagem é a arte da carona, sendo superada apenas pela sempre presente pergunta: "O que seus pais pensam sobre isso?"(rs) Para muitos é difícil imaginar como é a sensaçao de ficar na beira de uma estrada com o polegar levantado esperando pela bondade alheia para seguir seu caminho, ou melhor, seguir o caminho da pessoa que te leva!
Com o objetivo de esclarecer um pouco dessa curiosidade e contar também alguns fatos divertidos, e outros nao tanto desse diferente mundo, inicio esta postagem de hoje!
Tudo começa com a cara de pau. Hoje em dia já estou tao habituado que pedir carona é o mesmo que tomar um copo de água, mas afirmo que no princípio as coisas nao sao assim tao simples. Conto a vocês que nunca cheguei a sentir medo, mas já me senti com jeito de otário em ficar parado na beira da estrada fazendo jóia para o além, esperando que alguém interprete esse sinal de maneira satisfatória, oferecendo me levar para algum lugar que nao sei exatamente qual seja.
Em minha primeira viagem, em 2007, caminhei muito antes de ter o espírito necessário para levantar o dedao, e minha primeira carona foi em uma charrete puxada por um cavalo. A segunda foi numa balsa e a consegui conversando e somente a terceira foi com o dedo levantado. Muitas vezes vergonhoso, conto a vocês que já fui muitas vezes motivo de chacota e de admiraçao - assim como admiram macacos no zoológico, rs! Certa vez, assim que terminou o carnaval, consegui uma carona até Garuva, interior de Santa Catarina e ali tentei, na BR-101, uma carona sentido sul. Estava chovendo bastante e a estrada sentido sul estava quase sem movimento. Completamente o oposto da mesma de sentido contrário, que bastante congestionada, tinha os veículos transitando de forma lenta e muitas vezes até totalmente parados. Sinto-me orgulhoso de dizer que fui entretenimento para os entediados entusiastas do carnaval que voltavam lentamente para casa. Crianças pequenas dentro dos carros me olhavam com os olhos quase saindo das órbitas e perguntavam o que aquela pessoa fazia alí parada. Outros gritavam incentivando "BOA SORTE" e fechavam os vidros novamente gargalhando. Alguns outros diziam "Vai a pé" ou "Toma um ônibus", sem ao menos saber o meu destino. O restante passava apenas cochichando entre si e com risadinhas disfarçavam sem sucesso a graça que eu lhes causava enquanto eu seguia congelando na chuva, envergonhado torcendo para que muito em breve alguém parasse e me tirasse daquela sensaçao incômoda.
Primeira dica para um caroneiro: "Tenha cara de pau e nao se importe com as diferentes manisfestaçoes alheias!"
Seguindo, ainda sem passar às caronas de verdade, digo que todo caroneiro deve interpretar os mais variados sinais que fazem os motorístas que por diversos motivos nao irao te levar. Alguns mais discretos apenas levantam o indicador ligeiramente do volante apontando alguma direçao qualquer, enquanto outros fazem sinais que poderiam ser vistos a quilômetros de distância com o mesmo objetivo de dizer que nao vao na mesma direçao que você, como se soubessem para onde você pretende ir. O mais curioso desse tipo de sinal é quando eles apontam pra frente, exatamente para onde aponta a estrada, como se nao fosse aquela a única direçao possível de seguir, tanto para um como para o outro.
Seguindo com os sinais de informaçao de rumo a tomar, ainda há aqueles que, em poucos segundos de comunicaçao muda, tentam expressar todo o trajeto que pretendem seguir, tentando demonstrar curvas e intersecçoes, retornos e outros sinais que para mim seguem incompreensíveis.
Deixando os sinais de direçao passamos para os de incorfomidade ou de sugestao: Aí vêm o típico sinal feito com os dedos indicador e médio apontados para baixo, indo para frente e para tras de forma intercalada e contínua, significando o sempre presente "Vai andando". Também bastante comum é o sinal em que se juntam todos os dedos de uma mao pela ponta e se move o pulso para cima e para baixo duas ou três vezes, separando-se os dedos na última deixando por fim uma das maos na mesma posiçao em que se reza o pai nosso, em gesto típico dos italianos, como uma forma de indignaçao.
Nota: Esse sinal deve ser interpretado juntamente com as impressoes faciais do agente sinalizador:
1. Sombrancelhas juntas e rápido e incompreensível movimento labial: Indignaçao com fúria. Para esse, pedir carona é quase ofensa, rs.
Um dos principais pontos que despertam a curiosidade dos meus interlocutores quando conversamos sobre minha épica viagem é a arte da carona, sendo superada apenas pela sempre presente pergunta: "O que seus pais pensam sobre isso?"(rs) Para muitos é difícil imaginar como é a sensaçao de ficar na beira de uma estrada com o polegar levantado esperando pela bondade alheia para seguir seu caminho, ou melhor, seguir o caminho da pessoa que te leva!
Com o objetivo de esclarecer um pouco dessa curiosidade e contar também alguns fatos divertidos, e outros nao tanto desse diferente mundo, inicio esta postagem de hoje!
Tudo começa com a cara de pau. Hoje em dia já estou tao habituado que pedir carona é o mesmo que tomar um copo de água, mas afirmo que no princípio as coisas nao sao assim tao simples. Conto a vocês que nunca cheguei a sentir medo, mas já me senti com jeito de otário em ficar parado na beira da estrada fazendo jóia para o além, esperando que alguém interprete esse sinal de maneira satisfatória, oferecendo me levar para algum lugar que nao sei exatamente qual seja.
Em minha primeira viagem, em 2007, caminhei muito antes de ter o espírito necessário para levantar o dedao, e minha primeira carona foi em uma charrete puxada por um cavalo. A segunda foi numa balsa e a consegui conversando e somente a terceira foi com o dedo levantado. Muitas vezes vergonhoso, conto a vocês que já fui muitas vezes motivo de chacota e de admiraçao - assim como admiram macacos no zoológico, rs! Certa vez, assim que terminou o carnaval, consegui uma carona até Garuva, interior de Santa Catarina e ali tentei, na BR-101, uma carona sentido sul. Estava chovendo bastante e a estrada sentido sul estava quase sem movimento. Completamente o oposto da mesma de sentido contrário, que bastante congestionada, tinha os veículos transitando de forma lenta e muitas vezes até totalmente parados. Sinto-me orgulhoso de dizer que fui entretenimento para os entediados entusiastas do carnaval que voltavam lentamente para casa. Crianças pequenas dentro dos carros me olhavam com os olhos quase saindo das órbitas e perguntavam o que aquela pessoa fazia alí parada. Outros gritavam incentivando "BOA SORTE" e fechavam os vidros novamente gargalhando. Alguns outros diziam "Vai a pé" ou "Toma um ônibus", sem ao menos saber o meu destino. O restante passava apenas cochichando entre si e com risadinhas disfarçavam sem sucesso a graça que eu lhes causava enquanto eu seguia congelando na chuva, envergonhado torcendo para que muito em breve alguém parasse e me tirasse daquela sensaçao incômoda.
Primeira dica para um caroneiro: "Tenha cara de pau e nao se importe com as diferentes manisfestaçoes alheias!"
Seguindo, ainda sem passar às caronas de verdade, digo que todo caroneiro deve interpretar os mais variados sinais que fazem os motorístas que por diversos motivos nao irao te levar. Alguns mais discretos apenas levantam o indicador ligeiramente do volante apontando alguma direçao qualquer, enquanto outros fazem sinais que poderiam ser vistos a quilômetros de distância com o mesmo objetivo de dizer que nao vao na mesma direçao que você, como se soubessem para onde você pretende ir. O mais curioso desse tipo de sinal é quando eles apontam pra frente, exatamente para onde aponta a estrada, como se nao fosse aquela a única direçao possível de seguir, tanto para um como para o outro.
Seguindo com os sinais de informaçao de rumo a tomar, ainda há aqueles que, em poucos segundos de comunicaçao muda, tentam expressar todo o trajeto que pretendem seguir, tentando demonstrar curvas e intersecçoes, retornos e outros sinais que para mim seguem incompreensíveis.
Deixando os sinais de direçao passamos para os de incorfomidade ou de sugestao: Aí vêm o típico sinal feito com os dedos indicador e médio apontados para baixo, indo para frente e para tras de forma intercalada e contínua, significando o sempre presente "Vai andando". Também bastante comum é o sinal em que se juntam todos os dedos de uma mao pela ponta e se move o pulso para cima e para baixo duas ou três vezes, separando-se os dedos na última deixando por fim uma das maos na mesma posiçao em que se reza o pai nosso, em gesto típico dos italianos, como uma forma de indignaçao.
Nota: Esse sinal deve ser interpretado juntamente com as impressoes faciais do agente sinalizador:
1. Sombrancelhas juntas e rápido e incompreensível movimento labial: Indignaçao com fúria. Para esse, pedir carona é quase ofensa, rs.
2. Sobrancelhas ligeiramente levantadas com um movimento lento e curto de cabeça para um lado e para o outro: Incredulidade, e mesmo sem mover os lábios se percebe que tenta dizer: "que mer... está fazendo aí?"
3. Um dos lados da boca ligeiramente levantado, acompanhado com um sorriso e um olhar malicioso e apenas uma das sobrancelhas levantada: Deboche, "Tu nao acredita mesmo que alguém vai te tirar daí, nao?"
Mas o que mais me causou graça, e também remorso, foi quando uma senhora passou e me olhou com um olhar triste, colocou a mao no peito, próximo ao coraçao e com a cabeça ligeiramente inclinada, a moveu em sinal negativo em um comovente: "Perdoe-me sinceramente, mas mesmo me sentindo muito mal por isso nao posso te ajudar!" (rs)
Segunda dica para um caroneiro: "Sinais podem ser divertidos ou irritantes, mas só sao feitos quando a pessoa quer justificar porque nao vai parar. Se estiver impaciente, ignore-os!"
Todos esses sinais e gozaçoes sao feitos nos árduos momentos de espera, que podem ser longos ou curtos, bastante longos ou bastante curtos, diria eu! De novo faço referência a minha primeira viagem. Com meu primo Ralfy, em Sao Gabriel, no inteiror gaúcho, ficamos da 1 da tarde até anoitecer e no dia seguinte toda a manha até as 2 da tarde e nada de carona. Nessa viagem de agora, o maior tempo que fiquei foram 6 horas sem conseguir nada, e minutos antes de escurecer tive sorte de conseguir uma carona que me levou para um agradável lugar onde armei minha barraca e passei a noite. Isso foi entre Atlantida e San Jacinto, no Uruguay. A mais rápida também foi com meu primo. Saindo de Torres-RS, escrevemos POA numa plaquinha e o primeiro carro que passou, cerca de 30 segundos depois, parou e nos levou rumo a capital do estado, deixando incrédulo o policial que nos emprestrou as ferramentas para confeccionar a placa. Mas digo a voces que a média de espera é entre 30 minutos e 2 horas. O que me fascina é que as vezes passa horas em locais que sao extremamente movimentados e outras vezes consegue carona com o único carro que deve existir em um raio de 50 km!(rs) Por isso digo...
Terceira dica para um caroneiro: "Tenha paciência, o tempo de espera nao tem como ser calculado ou previsto."
Mas felizmente a vida de um caroneiro nem sempre é só na beira da estrada - há também os momentos em que se divide o transporte de um desconhecido, indo para um lugar que voce supoe saber qual seja. Porém por mais que isso pareça arriscado é fascinante. Conhecer pessoas de distintas culturas, diferentes classes sociais, diferentes sonhos e opinioes é uma experiência riquíssima e parte indispensável de um todo que necessito para atingir meus objetivos nesta viagem. Tenho certeza que mesmo que se eu tivesse dinheiro e opçao, nao deixaria de viajar dessa forma.
Algumas coisas que devemos levar em consideraçao quando a pessoa nos leva é que estao nos fazendo um favor e como tal, devemos sempre que possivel retribuir tal feito, afinal quase sempre nos dao carona por um motivo. A pouco falei da carona mais rapida que peguei com meu primo, e o motivo pelo qual aquele senhor nos recolheu para levar a Porto Alegre foi que esteve viajando toda a noite e mal podia se manter acordado e, gentilmente, eu e meu primo falamos incessantemente e desesperadamente a todo o instante, retribuindo o favor e enlouquecendo o sonolento motorista. Outras vezes, nos dao carona porque tem longas viagens e lhes custa viajar sozinhos, entao, tendo alguém para conversar parece que o tempo nao custa tanto a passar. É muito divertido também pegar carona com caminhoneiros. Sempre com milhoes de histórias pra contar, suas vidas em geral sao bastante movimentadas e lhes agrada ter um ouvinte bastante atento. Um deles me contou que tinha 4 mulheres e um filho com cada e que uma nao sabia da outra detalhando as artimanhas que fazia para manter o segredo, enquanto um outro me contava os nomes das cafetinas de todos os bordéis de beira de estrada. Houve ainda um outro que deu carona a mim a ao meu primo devido a boa experiência passada, quando conheceu sua mulher lhe dando carona e foi esse mesmo motorista dos gigantes da estrada que me explicou o segnificado da "amanita matutina" da boa cançao "Avohai" de Zé Ramalho, enquanto essa mesma soava a toda altura nos alto falantes de seu caminhao. Interressante também foi quando um caminhoneiro confundiu minha mochila, que estava com minha boina acima com uma criança, e com dó da pobre mochila - ou criança - na chuva, parou para ajudar.
Muitos deles, nao só os caminhoneiros mas também como velinhas e universitarios que me dao carona, classificam-me como louco, outros tantos como corajoso, me convidam a ir a suas casas e me apresentam suas famílias, me pagam lanches e incontáveis vezes me dao dinheiro, mesmo que eu insista que dele nao preciso. Conversamos sobre assuntos íntimos e problemas que os afligem - já reparou como muitos preferem contar seus problemas a desconhecidos? - e nao esperam nada mais de voce do que ser um bom ouvinte, nao precisando voce nem ao menos dizer uma palavra. Já peguei carona com pessoas muito pobres e também com pessoas bastante ricas. Já peguei carona em charrete, mercedes e em um Ford T da década de 20. Empresários, empregados e desempregados, e nao houve um apenas que nao tivesse uma história ou até mesmo uma estória, dignas de serem contadas e ouvidas, e a partir disso deixo a próxima dica:
Quarta dica para um caroneiro: "Nao utilize sua carona apenas como um meio de transporte, aproveite para aprender e ensinar o que puder, e disfrute desses momentos que poucos terao a oportunidade de vivenciar."
Terminadas as dicas, concluo dizendo que esse é um jeito bastante barato de viajar e bastante rico em experiências, permitindo-lhes que descubram fatos e curiosidades sobre cada lugar que passam e torna sua viagem muito mais divertida e interessante.
Perigos sempre existem, mas nao creio que viajar de carona seja mais perigoso do que voltar durante a madrugada de Sao Paulo ou Rio de Janeiro pra casa depois de uma balada, ou mais arriscado que praticar um esporte radical. Para morrer basta estar vivo, e tudo que temos estando em casa, indo para escola, faculdade ou trabalho é uma falsa sensaçao de segurança e, muitas vezes, deixamos de realizar nossos sonhos por motivos que nao condizem com a realidade.
Nao eu, e espero que nao vocês.
Um grande abraço,
Andejo.
PhD em viajar de carona, estando na estrada a 6 meses e tendo percorrido 6500 km em Brasil, Uruguai e Argentina. Por Enquanto... ¡¡¡ hahahahaha !!!
3. Um dos lados da boca ligeiramente levantado, acompanhado com um sorriso e um olhar malicioso e apenas uma das sobrancelhas levantada: Deboche, "Tu nao acredita mesmo que alguém vai te tirar daí, nao?"
Mas o que mais me causou graça, e também remorso, foi quando uma senhora passou e me olhou com um olhar triste, colocou a mao no peito, próximo ao coraçao e com a cabeça ligeiramente inclinada, a moveu em sinal negativo em um comovente: "Perdoe-me sinceramente, mas mesmo me sentindo muito mal por isso nao posso te ajudar!" (rs)
Segunda dica para um caroneiro: "Sinais podem ser divertidos ou irritantes, mas só sao feitos quando a pessoa quer justificar porque nao vai parar. Se estiver impaciente, ignore-os!"
Todos esses sinais e gozaçoes sao feitos nos árduos momentos de espera, que podem ser longos ou curtos, bastante longos ou bastante curtos, diria eu! De novo faço referência a minha primeira viagem. Com meu primo Ralfy, em Sao Gabriel, no inteiror gaúcho, ficamos da 1 da tarde até anoitecer e no dia seguinte toda a manha até as 2 da tarde e nada de carona. Nessa viagem de agora, o maior tempo que fiquei foram 6 horas sem conseguir nada, e minutos antes de escurecer tive sorte de conseguir uma carona que me levou para um agradável lugar onde armei minha barraca e passei a noite. Isso foi entre Atlantida e San Jacinto, no Uruguay. A mais rápida também foi com meu primo. Saindo de Torres-RS, escrevemos POA numa plaquinha e o primeiro carro que passou, cerca de 30 segundos depois, parou e nos levou rumo a capital do estado, deixando incrédulo o policial que nos emprestrou as ferramentas para confeccionar a placa. Mas digo a voces que a média de espera é entre 30 minutos e 2 horas. O que me fascina é que as vezes passa horas em locais que sao extremamente movimentados e outras vezes consegue carona com o único carro que deve existir em um raio de 50 km!(rs) Por isso digo...
Terceira dica para um caroneiro: "Tenha paciência, o tempo de espera nao tem como ser calculado ou previsto."
Mas felizmente a vida de um caroneiro nem sempre é só na beira da estrada - há também os momentos em que se divide o transporte de um desconhecido, indo para um lugar que voce supoe saber qual seja. Porém por mais que isso pareça arriscado é fascinante. Conhecer pessoas de distintas culturas, diferentes classes sociais, diferentes sonhos e opinioes é uma experiência riquíssima e parte indispensável de um todo que necessito para atingir meus objetivos nesta viagem. Tenho certeza que mesmo que se eu tivesse dinheiro e opçao, nao deixaria de viajar dessa forma.
Algumas coisas que devemos levar em consideraçao quando a pessoa nos leva é que estao nos fazendo um favor e como tal, devemos sempre que possivel retribuir tal feito, afinal quase sempre nos dao carona por um motivo. A pouco falei da carona mais rapida que peguei com meu primo, e o motivo pelo qual aquele senhor nos recolheu para levar a Porto Alegre foi que esteve viajando toda a noite e mal podia se manter acordado e, gentilmente, eu e meu primo falamos incessantemente e desesperadamente a todo o instante, retribuindo o favor e enlouquecendo o sonolento motorista. Outras vezes, nos dao carona porque tem longas viagens e lhes custa viajar sozinhos, entao, tendo alguém para conversar parece que o tempo nao custa tanto a passar. É muito divertido também pegar carona com caminhoneiros. Sempre com milhoes de histórias pra contar, suas vidas em geral sao bastante movimentadas e lhes agrada ter um ouvinte bastante atento. Um deles me contou que tinha 4 mulheres e um filho com cada e que uma nao sabia da outra detalhando as artimanhas que fazia para manter o segredo, enquanto um outro me contava os nomes das cafetinas de todos os bordéis de beira de estrada. Houve ainda um outro que deu carona a mim a ao meu primo devido a boa experiência passada, quando conheceu sua mulher lhe dando carona e foi esse mesmo motorista dos gigantes da estrada que me explicou o segnificado da "amanita matutina" da boa cançao "Avohai" de Zé Ramalho, enquanto essa mesma soava a toda altura nos alto falantes de seu caminhao. Interressante também foi quando um caminhoneiro confundiu minha mochila, que estava com minha boina acima com uma criança, e com dó da pobre mochila - ou criança - na chuva, parou para ajudar.
Muitos deles, nao só os caminhoneiros mas também como velinhas e universitarios que me dao carona, classificam-me como louco, outros tantos como corajoso, me convidam a ir a suas casas e me apresentam suas famílias, me pagam lanches e incontáveis vezes me dao dinheiro, mesmo que eu insista que dele nao preciso. Conversamos sobre assuntos íntimos e problemas que os afligem - já reparou como muitos preferem contar seus problemas a desconhecidos? - e nao esperam nada mais de voce do que ser um bom ouvinte, nao precisando voce nem ao menos dizer uma palavra. Já peguei carona com pessoas muito pobres e também com pessoas bastante ricas. Já peguei carona em charrete, mercedes e em um Ford T da década de 20. Empresários, empregados e desempregados, e nao houve um apenas que nao tivesse uma história ou até mesmo uma estória, dignas de serem contadas e ouvidas, e a partir disso deixo a próxima dica:
Quarta dica para um caroneiro: "Nao utilize sua carona apenas como um meio de transporte, aproveite para aprender e ensinar o que puder, e disfrute desses momentos que poucos terao a oportunidade de vivenciar."
Terminadas as dicas, concluo dizendo que esse é um jeito bastante barato de viajar e bastante rico em experiências, permitindo-lhes que descubram fatos e curiosidades sobre cada lugar que passam e torna sua viagem muito mais divertida e interessante.
Perigos sempre existem, mas nao creio que viajar de carona seja mais perigoso do que voltar durante a madrugada de Sao Paulo ou Rio de Janeiro pra casa depois de uma balada, ou mais arriscado que praticar um esporte radical. Para morrer basta estar vivo, e tudo que temos estando em casa, indo para escola, faculdade ou trabalho é uma falsa sensaçao de segurança e, muitas vezes, deixamos de realizar nossos sonhos por motivos que nao condizem com a realidade.
Nao eu, e espero que nao vocês.
Um grande abraço,
Andejo.
PhD em viajar de carona, estando na estrada a 6 meses e tendo percorrido 6500 km em Brasil, Uruguai e Argentina. Por Enquanto... ¡¡¡ hahahahaha !!!
Estava com saudade de ler seus posts! Finalmente não tenho a desculpa esfarrapada da falta de tempo e, assim, posso acompanhar melhor suas histórias. Sou capaz de ouvir sua voz ao passar meus olhos por esses textos... ^^ Enfim, continuarei lendo e esperando por mais novidades! Que continue tendo uma boa viagem, Carlinhos.
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