Era segunda, mas não aquelas típicas segundas, chatas e entediantes. Era uma segunda-feira diferente, esperada por um longo tempo por um andejo que esperava há muito a hora de voltar a vadiar. Depois de muito trabalho e uma grande festa, com muitos novos antigos amigos, como para coroar o esforço que foi feito, só faltava decidir qual caminho a seguir.
Cabeça no travesseiro mas imaginação distante. Qual caminho seguir? Passaria a oeste de Buenos Aires, ou voltaria a entrar na grande metrópole? Ficaria mais alguns dias, anônimo, na capital portenha ou seguiria enfim a La Plata?
Mal sabia o despreocupado Andejo que seu próximo destino era ao norte, a milhares de quilômetros dali. Mas uma ligação, que deveria ter caráter meramente informativo, foi crucial e definitivo e definiu a direção dos próximos passos que ele mesmo daria.
Andejo é um cara simples, e por mais que seja bastante desapegado, tem amor a sua família, e nessa segunda-feira, recebeu uma difícil notícia: Sua avó havia sido desenganada pelos médicos, e de acordo com eles teria poucos dias de vida. Sua cabeça esvaziou e seu corpo pesou, e a simples decisão entre passar ou não por Buenos Aires tornou-se díficil e pesarosa.
Tanto que foi deixada de lado, e por um último adeus, Andejo decidiu caminhar novamente à sua origem, sua terra natal, São Paulo, e partiu naquele mesmo instante. Com uma carona de seus recém casados amigos foi até Zarate, onde, mesmo que mais distante, seria em teoria mais fácil conseguir uma carona direta ao Brasil. Chegou ao posto após a meia noite e até as quatro da madrugada esteve pensando na fragilidade da vida. Mas a partir do momento em que o primeiro caminhão ligou seus motores, terminando com o silêncio que reinava na fria e chuvosa madrugada, começou a buscar quem o levasse em direção a avó que esperava seu abraço.
Foi bastante difícil. Conversando com todos os motoristas que ligavam os potentes motores um a um, descobriu que em sua maioria iam para Buenos Aires e informavam que para conseguir carona para o Brasil teria que esperar até quarta ou quinta-feira. Porém não haviam muitas desistências no histórico deste persistênte Andejo, e após o pátio de caminhões estar quase vazio, encontrou uma boa alma que, quase caridosamente, o levou à fronteira. Este caminhoneiro, da pequena cidade de Londrina, alterou seu planos e partiu logo cedo para a cidade de Uruguaiana entendendo a pressa que sentia o quase sempre despreocupado viajante.
Horas interminéveis conduziram pela vigiada estrada, e somente ao pôr-do-sol chegaram à fronteira. Despediu-se do bondoso trabalhador do lugar que considera sua casa e carimbou seu passaporte de saída do país em que tanto tempo ficou, e o qual planejava terminar de conhecer. Uma estranha sensação o invadiu, estava voltando ao seu país, muito antes do planejado.
Até as 11 da noite, tentou sem sucesso uma carona mais longa do que cruzar a ponte ao Brasil. E como que por uma estranha coincidência, parou na aduana um ônibus que iria a Curitiba. Levaria-o a não mais de duas quadras da casa de seu pai, onde poderia passar uma noite, rever a família e no outro dia, descansado completar o trecho que faltava até o colo de sua avó.
Fazia muito tempo que este Andejo não a via. A vida os separou, e por displicência, ele não buscou estreitar novamente os laços. Mas ela estava fundo ainda em seus pensamentos, em suas lembranças. Podia lembrar da velha casa com tapete verde, e sacada, na pacata rua paulistana. As festas de Natal eram sempre animadas, com toda a família, afinal essa avó havia nascido no dia 25 de dezembro. Era bastante solidária e acolhedora, trabalhava em excesso para fazer com que todos se sentissem bem em sua casa. Estava um pouco acima do peso, e isso tornava seu colo e seu abraço ainda mais confortáveis. Estava com seus longos cabelos de índia já perdendo a cor, mas sua memória infalível lembrava os aniversários de seus 10 filhos, incontáveis netos, bisnetos e até tataranetos. Oitenta e nove anos de admirável vida.
Tomou o ônibus e por 24 horas esteve viajando rumo a casa de seus pais. Que louca sensação. Sua casa havia sido reformada e após alguns momentos relembrando os momentos em seu quarto, lembrou que não tinha mais quarto. Não só isso, mas muita coisa mudou, as coisas não param no tempo quando alguém não está presente, e as histórias continuam não importando sua presença nela.
Ao chegar em frente a porta de vidro que não existia quando partiu, avistou sua mãe limpando uma mesa distraidamente, e não foi reconhecido pela desavisada mãe. Porém um aceno e um sorriso foram suficientes para tal tarefa e ela sem acreditar desceu as escadas para abrir as portas ao filho que havia voltado ao lar sem avisar. Um abraço sincero bem apertado o recebeu, seguido de outro da irmã e do pai. Comida e cama, daquelas que mesmo não sendo do bom e do melhor, diferenciam-se por serem as da sua casa.
Após uma noite muito bem dormida, e de estar preparado para seguir viagem, foi recebido com uma dolorida notícia, sua avó havia acabado de falecer. Sempre amigo do tempo, dessa vez o Vadio recebeu uma dura lição. Mesmo ao mais ocioso pode faltar tempo para alcançar um objetivo. E assim sua viagem para um último abraço, tornou-se uma viagem para uma última despedida.
Foram todos a uma pequena cidade no interior paranaense chamada Itambaracá e lá encontrou parentes que não via desde os natais na casa de sua vó, e juntos velaram pela brava senhora chamada Maria José Vieira Grispan, que teve uma história de luta e de sucessos, que teve, sem dúvidas, uma história feliz. Ela já não está por aqui, não em carne, não em osso, não em sangue, porém, com certeza está junto dos os outros três avós desse Andejo, velando cada passo de seu longo caminho.
Cabeça no travesseiro mas imaginação distante. Qual caminho seguir? Passaria a oeste de Buenos Aires, ou voltaria a entrar na grande metrópole? Ficaria mais alguns dias, anônimo, na capital portenha ou seguiria enfim a La Plata?
Mal sabia o despreocupado Andejo que seu próximo destino era ao norte, a milhares de quilômetros dali. Mas uma ligação, que deveria ter caráter meramente informativo, foi crucial e definitivo e definiu a direção dos próximos passos que ele mesmo daria.
Andejo é um cara simples, e por mais que seja bastante desapegado, tem amor a sua família, e nessa segunda-feira, recebeu uma difícil notícia: Sua avó havia sido desenganada pelos médicos, e de acordo com eles teria poucos dias de vida. Sua cabeça esvaziou e seu corpo pesou, e a simples decisão entre passar ou não por Buenos Aires tornou-se díficil e pesarosa.
Tanto que foi deixada de lado, e por um último adeus, Andejo decidiu caminhar novamente à sua origem, sua terra natal, São Paulo, e partiu naquele mesmo instante. Com uma carona de seus recém casados amigos foi até Zarate, onde, mesmo que mais distante, seria em teoria mais fácil conseguir uma carona direta ao Brasil. Chegou ao posto após a meia noite e até as quatro da madrugada esteve pensando na fragilidade da vida. Mas a partir do momento em que o primeiro caminhão ligou seus motores, terminando com o silêncio que reinava na fria e chuvosa madrugada, começou a buscar quem o levasse em direção a avó que esperava seu abraço.
Foi bastante difícil. Conversando com todos os motoristas que ligavam os potentes motores um a um, descobriu que em sua maioria iam para Buenos Aires e informavam que para conseguir carona para o Brasil teria que esperar até quarta ou quinta-feira. Porém não haviam muitas desistências no histórico deste persistênte Andejo, e após o pátio de caminhões estar quase vazio, encontrou uma boa alma que, quase caridosamente, o levou à fronteira. Este caminhoneiro, da pequena cidade de Londrina, alterou seu planos e partiu logo cedo para a cidade de Uruguaiana entendendo a pressa que sentia o quase sempre despreocupado viajante.
Horas interminéveis conduziram pela vigiada estrada, e somente ao pôr-do-sol chegaram à fronteira. Despediu-se do bondoso trabalhador do lugar que considera sua casa e carimbou seu passaporte de saída do país em que tanto tempo ficou, e o qual planejava terminar de conhecer. Uma estranha sensação o invadiu, estava voltando ao seu país, muito antes do planejado.
Até as 11 da noite, tentou sem sucesso uma carona mais longa do que cruzar a ponte ao Brasil. E como que por uma estranha coincidência, parou na aduana um ônibus que iria a Curitiba. Levaria-o a não mais de duas quadras da casa de seu pai, onde poderia passar uma noite, rever a família e no outro dia, descansado completar o trecho que faltava até o colo de sua avó.
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Fazia muito tempo que este Andejo não a via. A vida os separou, e por displicência, ele não buscou estreitar novamente os laços. Mas ela estava fundo ainda em seus pensamentos, em suas lembranças. Podia lembrar da velha casa com tapete verde, e sacada, na pacata rua paulistana. As festas de Natal eram sempre animadas, com toda a família, afinal essa avó havia nascido no dia 25 de dezembro. Era bastante solidária e acolhedora, trabalhava em excesso para fazer com que todos se sentissem bem em sua casa. Estava um pouco acima do peso, e isso tornava seu colo e seu abraço ainda mais confortáveis. Estava com seus longos cabelos de índia já perdendo a cor, mas sua memória infalível lembrava os aniversários de seus 10 filhos, incontáveis netos, bisnetos e até tataranetos. Oitenta e nove anos de admirável vida.
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Tomou o ônibus e por 24 horas esteve viajando rumo a casa de seus pais. Que louca sensação. Sua casa havia sido reformada e após alguns momentos relembrando os momentos em seu quarto, lembrou que não tinha mais quarto. Não só isso, mas muita coisa mudou, as coisas não param no tempo quando alguém não está presente, e as histórias continuam não importando sua presença nela.
Ao chegar em frente a porta de vidro que não existia quando partiu, avistou sua mãe limpando uma mesa distraidamente, e não foi reconhecido pela desavisada mãe. Porém um aceno e um sorriso foram suficientes para tal tarefa e ela sem acreditar desceu as escadas para abrir as portas ao filho que havia voltado ao lar sem avisar. Um abraço sincero bem apertado o recebeu, seguido de outro da irmã e do pai. Comida e cama, daquelas que mesmo não sendo do bom e do melhor, diferenciam-se por serem as da sua casa.
Após uma noite muito bem dormida, e de estar preparado para seguir viagem, foi recebido com uma dolorida notícia, sua avó havia acabado de falecer. Sempre amigo do tempo, dessa vez o Vadio recebeu uma dura lição. Mesmo ao mais ocioso pode faltar tempo para alcançar um objetivo. E assim sua viagem para um último abraço, tornou-se uma viagem para uma última despedida.
Foram todos a uma pequena cidade no interior paranaense chamada Itambaracá e lá encontrou parentes que não via desde os natais na casa de sua vó, e juntos velaram pela brava senhora chamada Maria José Vieira Grispan, que teve uma história de luta e de sucessos, que teve, sem dúvidas, uma história feliz. Ela já não está por aqui, não em carne, não em osso, não em sangue, porém, com certeza está junto dos os outros três avós desse Andejo, velando cada passo de seu longo caminho.
NO importar la distancia que nos separa sino LA AMISTAD que nos une... CHAR, conta con un abrazo, mi apoyo y mi pleno entendimiento por que, al igual que vos, pase por esta situacion de perder la mirada calida, el abrazo tierno y la caricia inigualable de una abuela... Te mando un abrazo gigante y espero que pronto vuelvas a tu camino dispuesto a recorrer los caminos, cuidado intensamente, desde arriba... ;)
ResponderExcluirMaku!
Andejo!
ResponderExcluirMis condolencias y acompañamiento en este momento...
Cuando se va un abuelito uno siente eso: que la vida feliz que tuvo, y llena de historias, uno tiene que honrrarlas repitiéndolas.
Tal vez no en forma, pero sí en escencia. Y creo que ella esta contenta en donde quiera que esté con esto que vos hacés todos y cada uno de tus días: vivir!
Te mando un abrazo gigante y entrerriano, con un buen matecito para acompañar... esperando algún día, en el que estemos distraídos, vos aparezcas por la puerta y nos abraces.
:)
Putz, você é bem gostoso hein!
ResponderExcluirComentário bastante pertinente dado o conteúdo da postagem!!
ResponderExcluirEssa é a prova de que não modero comentários! Haha
Desculpe. Comentei aqui porque não consegui comentar nas suas fotos. =P
ResponderExcluirPerdoe minha ousadia.