O Andejo Vadio: Long Nights
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"I always wonder why birds choose to stay in the same place when they can fly anywhere on the Earth. Then I ask myself the same question."
(Harun Yahya)

domingo, 7 de março de 2010

Long Nights

Finalmente estou novamente por aqui! Depois de longas noites perdido pelo mundo, estou agora em um local onde posso voltar a escrever, e serão muitas linhas, então tomem assento.

Começarei esta postagem pelo recomeço. Assim o considero porque voltei a viajar com o Alex, e viajar com um amigo é bem diferente de viajar sozinho. Saímos de Getúlio Vargas na segunda-feira, logo cedo, pegando um ônibus até Erechim e outro até um posto fiscal na fronteira do Rio Grande com Santa Catarina e ali ficamos algumas horas até a primeira carona do dia. Foi com um caminhoneiro que estava indo pra Curitiba que parecia ligado na tomada, não parava de falar nem para respirar. Andamos com ele algumas horas, até que nos deixou num trevo, onde nossos rumos se separavam, e neste local não ficamos mais do que alguns minutos, um furgão que fazia entregas para uma padaria nos levou até Catanduvas, e já ao meio-dia o motorista, Jair, nos garantiu o almoço nos dando algumas das iguarias que ele carregava, e nos instruiu a andar em direção ao final da cidade, onde teria outro trevo.

Andamos de baixo de sol forte, carregando cerca de 25 kg cada por alguns quilômetros, até vencermos uma longa subida, e o prêmio foi a melhor carona do dia. Jaime, um cara extremamente cabeça aberta, com idéias interessantes e alguns filhos no mundo. Com ele seguimos até Lages, fez questão de nos pagar um lanche na padaria de sua irmã, nos deixou na saída da cidade e disse que passaria por ali ao final do dia, e caso não conseguíssemos carona, nos daria pouso e alimentação. Nos deu seus telefones e partiu. Assim como nós com um velho carrinho destruído de um cara pobre, e bem sofrido, mas com um grande coração. Também nos levou a sua casa e nos ofereceu um café. Dali embarcamos num caminhão que voltava vazio para Urubici e como a cabine era pequena o Alex foi na caçamba. Quase morri de rir. O motorista era maluco e corria loucamente pela sinuosa serra catarinense, e com certeza fazia meu companheiro de viagem ser jogado de um lado para o outro, pra cima e pra baixo, tentando fazer com que nossas coisas não se despedaçassem. Chegamos no nosso destino perto das 7 horas e procuramos a secretaria de turismo, que obviamente estava fechada. Um rapaz que passeava com um labrador marrom perguntou se precisávamos de ajuda, e dissemos que procurávamos por um local para acampar, de preferência de graça, e então nos ofereceu seu quintal. Seu nome era Marcos, um gremista que recém abrira uma operadora de ecoturismo na região. Nos ofereceu o banheiro para tomarmos um banho e nos explicou tudo sobre a cidade.

No dia seguinte alugamos umas bicicletas e fomos em direção ao CINDACTA II, a 1808 metros de altitude, localizado no Morro da Igreja. Já no começo da subida não aguentava mais e já a ponto de desistir fomos salvos por uma ranger que subia para fazer manutenção nas antenas da estação. Colocamos as bicicletas e subimos na caçamba, de onde tivemos uma incrível visão daquele incrível lugar e nos deliciamos com o ar puro e gelado nos nossos rostos. O tempo estava perfeito, aberto, com nuvens apenas no horizonte. Gastamos um certo tempo tirando algumas fotos e começamos a descida. Já no começo a corrente da minha bicicleta caiu, enroscou nos raios e arrancou mais da metade deles, com isso a roda travou e o atrito abriu um grande buraco no pneu. Dei muita sorte de não cair, sabe-se lá onde ia parar se tratando de uma descida tão íngreme. Fomos socorridos por um casal com um troller, Adriano e Débora, que vieram de Campinas e estavam rodando toda a região. Prendemos a bicicleta estourada no carro e desci a serra com eles, enquanto o Alex desceu com sua bicicleta praticamente sem freios. Esse casal ainda pagou minha entrada numa cachoeira privada, pois o Alex desceu com a mochila que estavam todas as coisas, inclusive minha carteira. Conversamos bastante e eles me falaram de histórias sobre a patagônia e o deserto do Atacama, lugares que foram sempre de carro. Devolvi a bike destruída ao hotel que não me cobrou nada dos danos, afinal o que ocasionou o acidente havia sido um defeito mecânico e não displicência minha. Quando cheguei novamente na casa do Marcos tive minha maior decepção: minha barraca estava quebrada, uma vareta se partiu e por sorte a lona não se rompeu. Até o momento não consegui consertar. Depois disso deixamos a cidade com duas caronas, a primeira até Bom Jardim da Serra e a segunda até Tubarão, onde achamos um bar para assistir o jogo do Brasil. Devido ao horário, por volta das 19 horas desistimos da carona e pegamos um ônibus até Laguna e quando chegamos na cidade dormimos ali mesmo na rodoviária.

Vários tipos passaram e conversaram com a gente, mas a partir de uma certa hora não mais fomos incomodados. Nos revezamos acordados, e aproveitei, durante o meu turno para acabar o livro que estava lendo - On th Road, Jack Kerouac. Dormimos aproximadamente umas 2 horas cada e saímos logo ao amanhecer da rodoviária para conhecer o centro histórico de Laguna. Passamos no marco de tordesilhas (A linha imaginária do tratado entre espanhóis e portugueses passava em Laguna), e novamente adormecemos debaixo de um sol matutino nos bancos da praça em frente ao Museu Anita Garibaldi, a mais notável cidadã que a cidade já teve. Com mais essas duas horas maravilhosas de sono, conhecemos o resto da cidade. Além do museu, conhecemos a igreja de Santo Antônio, uma bela construção com muito dourado e forte influência da arquitetura barroca, além da casa que foi propriedade da Anita Garibaldi. O centro histórico todo em si é muito bonito, mas decidimos partir para o farol de Santa Marta ainda antes do almoço. Ainda na balsa arranjamos quem nos levasse até lá. Um lindo lugar onde tiramos muitas fotos e andamos a béça pela região. Ao final da tarde joguei bola com uns nativos e com os salva-vidas. Levei uma cotovelada no queixo que estou sentindo até agora.

Com apenas uma barraca não teríamos como acampar e decidimos dormir ao relento próximo a uns pinheiros perto da saída da cidade, mas o mau tempo nos fez pedir abrigo para um posto de polícia, e na garagem deles passamos a noite. Já preparávamos uma sopa quando o cabo Nunes, policial de plantão no local, dividiu sua janta conosco. Noite fria e chuvosa, e com o forte vento acabamos nos molhando um pouco. Como em todos os dias desde que voltamos a viajar juntos, levantamos antes das 6 horas e partimos para a estrada. Objetivo: Torres. Horas e horas e quase não passavam carros, e decidimos caminhar até a praia do Camacho, local mais movimentado e já asfaltado. Um pouco antes de chegarmos lá fomos novamente premiados, uma carona diretamente para Torres. Arthur, um executivo de um banco em Porto Alegre estava em férias no Farol, mas devido ao mau tempo decidiu passar os últimos dias em Torres. Nos pagou um café da manhã e ao som de Etta James, Los Ermanos e Amy Winehouse nos levou até Torres. Disse-nos que iria para Porto Alegre no dia seguinte, e nos deixou seu telefone para entrarmos em contato se a carona interessasse.

Rodamos por toda cidade, Praia Grande, Prainha, Praia da Cal e Parque da Guarita. A noite liguei para a Sabrina, minha próxima anfitriã e confirmei que ela estava em Porto, então mandamos uma mensagem para o Arthur, mas não obtivemos resposta. Fomos buscar alguma coisa pra comer e descansamos um pouco numa praça qualquer. Eis que surge um moleque puxando papo conosco, perguntando se éramos mochileiros, começamos a conversar, seu nome, Rafael. Outro amigo dele se aproximou, Guilherme e nos convidaram a ir ao apartamento do Rafael fazer um som. Um era estudante de arquitetura e outro de odonto. Bebemos e comemos, conversamos sobre Kerouac, London, Tolstói e Thoreou, além de muita música de qualidade: sambas, blues, rocks, além de várias composições do Guilherme, músicas incríveis por sinal, não duvido que faça sucesso algum dia. Depois de dois dias e meio sem tomar banho, o fizemos na casa dele que também ofereceu lugar para dormirmos. Não dormíamos num colchão há dias, na realidade não dormíamos direito há dias. Acredito que serão longas amizades as que foram feitas nesse dia.

Acordamos lá pelas 9h da manhã e já arrumávamos nossas coisas para partir quando recebemos uma ligação, era o Arthur dizendo que já estava indo para Porto e perguntando onde estávamos para vir nos buscar, e dessa vez ao som de Eric Clapton deixamos o litoral e fomos até a Capital Gaúcha. Nos deixou no aeroporto, nos despedimos e algum tempo depois a Sabrina veio nos apanhar. Instantes depois de chegarmos em seu apartamento (que fica em Canoas), seu marido, Paraguaçu, também amigo de longa data chegou e fizemos o primeiro churrasquinho e na primeira noite, forró. No sábado fomos fazer outro churrasco na casa de uma amiga deles e bebemos do meio dia à meia-noite. Muita carne, cerveja e samba e novamente uma cama confortável pra dormir. E finalmente cheguei ao dia de hoje, comendo os restos do churrasco o dia todo e olhando na internet o que tem acontecido nos últimos dias. Amanhã partiremos pra Caxias do Sul, tentaremos arranjar algum trabalho por lá pra juntar mais alguma graninha antes de sair do país.

Creio que poucos tiveram paciência de ler até aqui, mas tenham certeza que reduzi ao máximo e até omiti muitos fatos importantes para o texto não ficar tão longo. Espero não demorar tanto para postar novamente.

Um Abraço,

Andejo.

Um comentário:

  1. Oi Gatinho! Tive paciencia e li até o final... hehehe! É muito bom saberr que está bem! E a barraca, conseguiu consertar?
    bjo grande com saudades

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