Saí de Buenos Aires, meu destino: La Plata, capital da província. Facundo me acompanhou até o centro, onde peguei um ônibus em direção à nova cidade que fica a não mais que 70 km da Capital Federal. Não é muito seguro pedir carona na saída de grandes cidades. Meu computador começou a dar problemas com a rede sem fio e fui a cyber pra verificar se tinha onde ficar na cidade ou não. Não. Os contatos que fiz por couch surfing não deram resultado, decidi então buscar um hostel. O primeiro, lotado. Depois de caminhar mais umas 15 quadras com minha leve mochila de 30 kg, encontrei outro.
Aproveitei que neste lugar meu note funcionava e trabalhei um pouco. Uma brasileira, 2 colombianos, uma francesa e alguns argentinos. Violão, música argentina, colômbiana, e brasileira. Mais tarde fui com duas garotas a alguns bares da cidade, noite bacana. No dia seguinte conheci Martin, um estudante que veio de Bariloche cursar Design na universidade em La Plata e ele me convidou a ir à casa de um amigo seu, Vladmir, de Ushuaia. Em La Plata está uma das universidades mais antigas e conceituadas da Argentina e por isso muitos estudantes vêm de todas as partes do país buscando um diploma de peso. Batemos papo, bebemos, comemos e logicamente saímos. Fracasso, o bar estava péssimo, mas foi muito divertido. Vladmir me convidou a ficar mais uns dias em sua casa, porque no sábado faria um churrasco. Aceitei e no dia seguinte me levaram pelos principais pontos de La Plata e me contaram um pouco de suas estórias.
Dizem as lendas que La Plata foi planejada por um membro de uma seita contra a Igreja Católica. Este, desenhou a cidade de uma forma peculiar. Não importa a direção em que caminhe, sempre encontrará uma praça em 6 quadras. Já na praça principal, as quatro estátuas de mulheres que representam as quatro estações, primavera, verão, outono, inverno, tem suas mãos em formato duvidoso: com os dedos indicador e mínimo esticados enquanto anular e médio estão dobrados, que em teoria simbolizam chifres, possivelmente em apologia ao diabo. Outra estátua na praça principal mostra um arqueiro que apontava seu arco diretamente para a cruz da catedral da cidade. O arco foi retirado do arqueiro após supostamente serem encontrados furos nessa mesma cruz. Para terminar, o prédio da Municipalidad, equivalente a nossa prefeitura, foi construído com os fundos para a praça principal e consequentemente, à catedral, além de sua torre, parecer com uma coruja, possível símbolo da seita. A veracidade dessa histórias é questionável e remete à capacidade humana de achar significados ocultos em quase tudo. Cada um tem a liberdade de acreditar no que quiser, visitem a cidade e tirem suas próprias conclusões. Independente de La Plata ser ou não uma cidade do "diabo", é realmente divertida, lotada de jovens, bares e agito, e é uma boa pedida para se conhecer na região.
No sábado recebemos alguns amigos de Vlad que vieram de Buenos Aires e fizemos um churrasco onde provei uma linguinça de sangue de boi, odiei, rs! Mas os moleques que vieram de Bs As eram muito gente fina e passamos muito bem a noite, até que fomos dormir. Só tinha uma cama de solteiro para 6 pessoas! Com todo o equipamento de viagem que possuo me salvei, coloquei o isolante térmico no chão e dormi no meu saco de dormir como sempre, enquanto dois deles dormiram literalmente no chão e outros 3 colocaram o único colchão de lado e dormiram metade no colchão e metade no chão! No domingo assistimos a alguns filmes de terror nada aterradores e tanto Martin quando Vlad disseram que vão falar com suas família para me hospedarem quando eu esteja em Bariloche e Ushuaia. Quem sabe dê certo e eu não congele no frio sul argentino!
No dia seguinte deixei La Plata em direção à San Clemente de Tuyú, mas demorei quase dois dias para percorrer a distância que separa as duas cidades. A primeira carona foi muito triste. Um cara na casa dos cinquenta, do tipo nervoso, inseguro. Conversamos sobre viagens e ele me diz que gostaria muito de poder viajar mais. Disse que viajava quando era mais novo, mas terminou a vida sem dinheiro, precisando trabalhar muito para se manter. Perdeu sua mãe quando criança e seu pai algum tempo depois. Não é casado e seus dois irmãos já faleceram. Ou seja, já na segunda metade de sua vida, está completamente só, fazendo algo que não lhe agrada. Inevitavelmente me deixou pensando na importância das relações interpessoais em nossas vidas. E pensei nisso durante um bom tempo já que a próxima carona demorou consideravelmente e ao final me levou a uma pequena vila chamada Pipinas. Descolei aí comida e um lugar pra dormir com o dono de uma churrascaria e no dia seguinte segui viagem. Uma carona até o meio do nada e outra até um local chamado Cerro de La Gloria, um povoado com menos de 100 habitantes.
Estava pedindo carona na estrada, ao lado da polícia quando chega um moleque, chamado Fabían, 18 anos, com 3 sanduíches, dois com um bife de milanesa de cervo que eles tinham caçado no dia anterior e outro de queijo com goiabada, estranho, mas muito saboroso. É impressionante a diferença de trato das pessoas do interior e das cidades grandes. Tomamos mate, e ficamos conversando por muito tempo até que consegui outra carona até próximo de San Clemente, e duas mais me levaram até o centro da cidade. Passei duas noites num pequeno hotel na primeira praia do litoral argentino, onde a água é marrom por misturar-se a água do rio da plata. Tomei então um ônibus a Pinamar, a praia High Class da região. Lotada de hotéis com várias estrelas e restaurantes caros, minha única opção foi montar a barraca na praia. Passei num bar fantástico, decorado com cacarecos deixados por seus clientes por mais de 35 anos. Deixei um chaveiro de uma bolinha chinesa. Já em Villa Gesell, a próxima cidade, minha parada foi em um camping.
História interessante a de Villa Gesell. Antigamente na região não havia nada mais do que dunas, quando um senhor chamado Don Carlos Gesell decidiu aí se instalar em 1931. Contruiu sua casa, levou sua família e plantou um par de árvores. Essas árvores transformaram as dunas em um bosque e onde não havia nada instalou-se uma cidade. Sua antiga casa hoje é um museu em sua homenagem e a cidade herdou seu nome. Desse bosque levarei boas lembranças. Encontrei em frente ao museu algumas pessoas que estavam tocando violão depois de um evento em comemoração ao aniversário do fundador da cidade e percebi que uma mulher cantava em francês. Uma artista de circo de Paris que cantava em bares e cabarés na França que veio viver na Argentina tocava vários tipos de música, tanto em francês como em espanhol, algumas músicas ciganas estavam fantásticas. Outros músicos que revezavam cantavam em grego, português e aimarã, idioma andino, surpreendendo-me com uma enorme diversidade cultural. É fascinante o que se encontra viajando, o inesperado se torna regra, mostrando-se presente a todo momento.
Enfim cheguei a Mar del Plata, uma grande cidade do litoral argentino, entretanto deixo essa história para um outro dia, acho que por hoje já falei demais!
Um grande abraço a todos, e principalmente a minha mãe que fez 32 anos (está me devendo uma, mãe) dia 20 e a meu sobrinho Giovanni que fez 1 aninho dia 8. Amo vocês dois!
Até a próxima!
Andejo.
Opa Primo que legal acompanhar sua viagem!Sabe que o que mais gosto daqui é a diversidade?A mistura de cores, raças, linguas, culturas...aproveite bastante e continue postando, estarei daqui torcendo!!bjo gde
ResponderExcluirHistórias realmente incríveis... Minha imaginação vai longe. Boa sorte nessa viagem e que venham mais bons contos.
ResponderExcluir