O Andejo Vadio: Patagoneando!
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"I always wonder why birds choose to stay in the same place when they can fly anywhere on the Earth. Then I ask myself the same question."
(Harun Yahya)

sábado, 2 de abril de 2011

Patagoneando!


Como acha que seria a estada na casa de um alto funcionário de uma cervejaria artesanal? Foi assim minha difícil vida em Mar del Plata. Fiquei na casa do Gabriel, engenheiro fanático por cerveja que abandonou a carreira quando foi convidado a trabalhar numa fábrica de cerveja. Inclusive provei uma cerveja feita por ele em sua casa!! Posso até dizer agora como se faz uma cerveja! Maneiríssimo! Fora isso, Mar del Plata é uma cidade bacana e se não fosse pelo clima frio, pareceria com o que imagino que é caribe: bares com muitas frutas com mesas com toldo de palha e salsa caribenha rolando solta e outros bares construídos na encosta entre rochedos. Algo que achei impressionante é que armam milhares de toldos na praia e os alugam aos turístas por preços altíssimos, e alguns desses "clubes" tem até piscina, ali mesmo na praia.

No dia que fui embora de Mar del Plata encontrei com meus amigos de Concepción del Uruguay e passei bons momentos com eles, matando a saudade desse casal pelo qual criei um carinho imenso. Levaram-me no caminhão até o cruzamento de duas estradas e aí nos separamos e comecei a pedir dedo já durante a noite num frio absurdo. Para minha grande surpresa, perto das 10 da noite um rapaz que vendia ração para cachorros estava indo a Tandil e me tirou da enrascada que estava. 

Da grande probabilidade que tinha de passar a noite na estrada, fui levado diretamente a um churrasco em Tandil, e meu novo anfitrião, Sebastian, me recebeu com vários amigos também de Couch Surfing. Pessoal muito gente fina, que encontrei muitas vezes antes de sair de Tandil, dias esses que foram fantáticos! Uma das únicas coisas que não fiz foi descansar: churrascos, festas, bares e natureza a todo momento. Conheci aí também duas francesas que moram em Buenos Aires, garotas muito gente fina. Sebastian me convidou para jogar futebol de campo em uma cidade vizinha, e nós dois quase morremos visto que havíamos saído no dia anterior e regressado às 7 e meia da manhã com uma taxa de álcool relativamente alta no sangue, dormimos 3 horas e fomos jogar num campo imenso de baixo de sol forte! Foi terrível, haha! O ponto alto do tempo passado em Tandil foi quando fomos a uma pedreira abandonada, que se transformou num lago ao longo do tempo. Mergulhamos na água gelada e aproveitamos muito bem a tarde. Subimos na antigas estruturas que usava a pedreira que estavam completamente enferrujadas e parecia que iam desmoronar a qualquer momento, além de visitarmos também um cemitério de tratores.

Entretando a viagem continua. Deixei Tandil em direção a Bahia Blanca, com escala em Azul, Benito Juarez e Tres Arroyos, esta última a mais bacana. Já durante a noite em Benito Juarez, subi no carro de um senhor bastante religioso que me ofereceu sua casa para passar a noite. José Farias seu nome. Separado, com dois filhos já adultos e vivendo em Buenos Aires, cedeu-me uma cama confortável que pertencia a seu filho. No dia seguinte ainda me levou para conhecer um pouco da cidade. Coisas assim que parecem absurdas e inacreditáveis para muita gente, como alguém te dar carona e ainda por cima ceder um lugar para dormir, para tomar banho, dar-te de comer e oferecer-se para ser seu guia na cidade, acontecem a todo momento comigo, tornando minha viagem cada vez mais impressionante e me faz desacreditar em toda maldade que todos dizem que domina o mundo. É evidente que existe maldade, que existem pessoas de má índole, mas isso não representa toda a realidade. Esconder-se em suas casas não os faz estar mais seguro, e sim mais ignorantes, visto que julgam o mundo baseado em coisas que escutaram, e não em coisas que viveram. Pode ser até que já tenha te passado algo mal, que tenha sido assaltado, ou sofrido de alguma violência, mas parem para pensar quantas coisas boas lhe aconteceram na vida, quantas pessoas te ajudaram. Essa nossa capacidade de valorizar tudo que é ruim e tornar isso nossa única realidade me entristece e muito, porque cada vez mais as pessoas se encerram dentro de si mesmas, tornando-se assim pessoas mais tristes e solitárias e essas pessoas podem nunca chegar a conhecer a verdadeira realidade da vida.

Tudo isso precedeu minha entrada na tão esperada Patagônia, e depois de 4 anos, visto que esse foi o objetivo em minha primeira viagem em 2007, pude perceber a grandeza dessa paisagem. A Patagônia é tudo que eu imaginava só que em maior escala. Paisagens impressionantes, quilômetros de estrada reta e deserta, sem nenhum povoado ou vila. Estradas essas que aos poucos mudam suas caras, passando de campos para estepes, tornando-se quase desértico em algum momento passando a ser bosques quando se acerca a cordilheira dos andes. Saí da província de Buenos Aires, cruzei parte de La Pampa, Rio Negro e minha primeira parada foi em Neuquén, onde dormi gratuitamente em um Hotel - estou ficando bom nesse negócio de viajar sem dinheiro. Seguindo, subi numa camionete que transformou em tortura minha viagem. Um carro extremamente velho, que andava a cerca de 60 km/h e que tinha que parar de 15 em 15 minutos esfriar o motor e colocar água no radiador. Torturante. Para rodar 280 km demoramos 6 horas, mais lento que qualquer caminhão. Quando faltavam 15 km para chegar ao local onde me despediria desses simpáticos argentinos o carro pifou de vez e o senhor, muito simpático mas pouco experimentado em mecânica, começou a tirar todas as mangueiras e fios do lugar, levando-me ao desespero porque era visível que ele não sabia o que estava fazendo. O cúmulo foi quando começou a mexer no equipamento de gás e começou a soltar uma válvula. Como eu trabalhei com ar comprimido quando mergulhava, sei que a pior coisa a fazer é manutenção com o cilindro cheio, tornando-o extremamente perigoso. Afastei-me e quando vi um guincho passando fiz sinal e pararam, ajudando-nos a concertar o que havia quebrado. Torcendo para não ter mais nenhum problemas transcorri os últimos quilômetros até a bifurcação em qual eu desceria do carro e voltaria a pedir carona. Por sorte assim aconteceu. 

Uma paisagem fascinante não me deixava perceber a seriedade da situação, a temperatura caía, o tempo fechava e a noite se aproximava, mas era tudo tão novo que inexplicavelmente eu não conseguia me preocupar em quem sabe passar a noite aí. Por sorte não tardaram a me levar a Junin de los Andes, onde estou agora. Linda pequena cidade nos pés das montanhas, lugar tranquilo propício para o descanso e para esportes de aventura. Fiz um trekking de mais ou menos 1 hora e meia até o alto de um morro onde tive uma visão espetacular do vulcão Lanín, quem infelizmente, devido ao sol, não pude fotografar de forma a representar toda sua magnitude e majestade no horizonte. Decidi voltar entre estepes, morros, bosques e florestas para cortar caminho e interagir um pouco com a natureza e quase tive problemas, locais muito íngremes, com mata extremamente fechadas e somente decidi seguir em frente porque não sei se teria capacidade de voltar pelo caminho que havia ido além de que a noite chegava. Por sorte tudo correu bem, confira o vídeo abaixo.



Hoje devo deixar Junin e seguir Patagoneando em direção ao sul e espero que minhas experiências continuem sendo tão fantásticas e empolgantes quanto foram as das últimas semanas, não me deixando hesitar e nem me arrepender por um instante sequer do que escolhi fazer de minha vida. Estou disfrutando de cada instante da viagem, mesmo que já esteja com mais de 15 meses. Sinto falta de minha família, de meus amigos, mas sinto ainda mais falta daquilo que ainda não conheço, das fantásticas paisagens me esperam, os diferentes povos, culturas, pensamentos, crenças e ideais. Percebi que deixei uma faculdade para entrar em outra, que não é técnica e que nem lhe dá um diploma, mas te ensina não somente a viver como também a disfrutar da vida, de seus pequenos detalhes, dos pequenos gestos, do silêncio, da solidão forçada que te deixa filosofar horas e horas, e torna as sociabilizações não somente obrigações, mas também momentos que devem ser aproveitados como se fossem únicos.

E ao final de tudo, perguntam-me se não me considero louco por fazer o que estou fazendo e agora respondo a todos: Seria louco se depois de descobrir essa vida a abandonasse sem cumprir meus objetivos. Não importa quão bem eu possa ter a sorte de escrever, não poderia expressar meus pensamentos, não importa a qualidade de minha câmera, ela não é capaz de mostrar o que meus olhos vêem e não importa o quanto eu estudasse, eu nunca amadureceria tanto como na estrada. Loucura por loucura, fico com a minha.

Um grande abraço a todos,

Andejo.  

8 comentários:

  1. Caaaara! que tesão de viagem hein!? Lí tudo, adorei tudo...Se der passe por El Chalten! beijos e continue aproveitando muito aí! ^^

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  2. Parabéns pelo blog, muito bem feito! Vou seguindo suas andanças por aqui...
    Grande abraço e boa viagem! =)

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  3. Caramba, que coincidência Cris, estive lendo seu blog há poucos dias! Grande Beijo

    E Luh, seguramente vou passar por el chalten!!

    Valeu!!!

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  4. carlinho mi amigo....un abrazo grande y segui haciendo lo que te indique el corazon. nos vemos cuandop el viento nos vuelva a juntar. ale (junin)

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  5. eyyyyyyyyyyyyyy q massa esse post!!alias.. eu adoro todos os seus posts! hahaha
    eu ficoaki tentando vislumbrar o quao incrivel deve ser cada lugar novo q vc conehce e cada paisagem linda q vc ve.... realmente, nada no mundo pode "pagar" uma faculdade como essa.. haha queria era ta junto!!! hauha eu ia amarrrr hahaha
    massa brotherrrrrr
    beijoooo saduades
    mari

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  6. Primo, adoro ler sobre suas andanças... Aproveite sim, cada momento, cada lugar, cada pôr do sol e cada amizade que você faz, rs. Com certeza não vai se arrepender nunca de tudo isso. Um grande beijo!

    Paula

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  7. Olá cara nesse fim de ano estou me formando, começo do ano que vem gostaria de ir a patagonia, mas so que a grana é curta iria faze o mesmo que você fez sair de buenos aires e muchilar até o chile só qe não sei como funciona esse método de pegar carona em outro pais e uma pergunta como vc aranja dinheiro para ficar no hostel e pra aranja comida???é que eu nunca estive em outro pais mesmo que seja aqui do "lado" se você poder dar umas dica de como vc se vira com mais detalhes seria legal... até mais...

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  8. Olá,nesse fim desse ano me formo...para o começo do ano que vem, planejo uma viagem a patagonia só que de Buenos Airs para baixo teria que ir de carona e acampado... acha que isso é possivel explica com mais detalhes como você pega carona e se vira pra arranjar grana para comer e se virar por essas andanças ...

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