O Andejo Vadio: Mais uma vez em Buenos Aires!
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"I always wonder why birds choose to stay in the same place when they can fly anywhere on the Earth. Then I ask myself the same question."
(Harun Yahya)

terça-feira, 8 de março de 2011

Mais uma vez em Buenos Aires!



Quantas saudades sentia de estar à beira da estrada, de me queimar no sol, de não ter pra onde fugir da chuva, de passar horas cantarolando e praguejando os motoristas que não te dão carona. Essa sensação de liberdade que se sobrepõe a todos os pequenos obstáculos que surgem durante o caminho é capaz de transformar pequenos momentos em ocasiões importantes e grandes desafios em brincadeira de criança.

É bem verdade que meu recomeço de viagem foi bem diferente do que estava acostumado, visto que agora tenho a possibilidade de estar um pouco mais cômodo graças ao trabalho com meus pais. Usei deste benefício logo no princípio quando ao invés de "caronear", tomei um ônibus de Curitiba a Cascavel, passando 2 dias com minha irmã. Mas uma coisa não mudou, despedidas continuam sendo despedidas: em primeiro lugar minha mãe, que me levou à rodoviária de Curitiba. Com grande dor no coração, nos despedimos com os olhos lacrimejantes pensando no quanto tardaríamos a nos ver novamente. Em segundo minha irmã, que me levou com minha sobrinha de 1 ano e meio à beira da estrada, e me viu partir caminhando sem um rumo certo. Rever a família é maravilhoso, despedir-se é demasiadamente doloroso.

Pé na estrada. Com duas caronas cheguei a fronteira, com um ônibus a cruzei, e já no lado argentino a primeira caminhada, o primeiro contratempo, a primeira grande espera. Com um sol absurdamente forte não demorei a ficar com o nariz semelhante a um pimentão. Busquei abrigo com o intuito de passar um pouco de protetor. Desastre. O shampu abriu e os 300 ml de líquido gosmento se mesclaram aos outros objetos da mochila. Estupidez de mochileiro iniciante!! Como não colocar as coisas que podem vazar dentro de uma sacola? Passei horas lavando minhas coisas e enchi de espuma o banheiro do posto e acredito que se minha mochila chega a molhar ainda sairá espuma dela. Que raiva! Entretanto, estava no meio do nada e tinha pressa de seguir viagem. Engoli em seco e voltei pro acostamento. Andei alguns quilômetros em busca de uma sombra onde pudesse esperar que uma boa alma me levasse para o sul. Encontrei a sombra, mas não a boa alma. Segui caminhando e percebi que nessa estrada se localizavam grande parte dos hotéis da região, muito procurada pelos turistas que visitam as Cataratas do Iguaçú. Malditos sejam; horas debaixo de um sol escaldante, intercalando entre caminhadas com minha pesada mochila e sinais com o polegar, suando como um porco, olhando uma infinidade de pessoas se divertirem nas refrescantes piscinas dos hotéis. Sabe quando, num dia de calor, você chega em casa cansado, suado e sedento, abre a geladeira e não tem nada pra tomar? Então, foi muito pior. Era como uma mensagem do além: Seu F* da P*, tem mesmo certeza que quer voltar pra essa vida? E rindo da minha desgraça perseverei até ser recompensado.

Já com o sol baixo, subi a um caminhão missioneiro (de Missiones, província argentina, que equivalem ao nossos estados), com ar condicionado e muito tereré gelado. Escutava sertanejo, afinal nem tudo poderia ser perfeito, rs! Deixou-me em uma estação de pedágio não muito distante e já sem luz alguma vinda do sol pensava se deveria dormir por ali mesmo. A ansiedade falou mais alto e continuei pedindo carona. Dessa vez um carro, com um senhor que realmente apreciava o tabaco, levou-me até um posto de polícia perto da capital de Missiones, Posadas. Estive nesse lugar por bastante tempo, mas já de madrugada não esperava conseguir carona. Caminhei até uma garagem de ônibus, onde esperei dormindo em um banco, usando de travesseiro meu cachecol banhado em shampu, um ônibus que me levasse uns 50 Km, até a intersecção da estrada por onde seguiria, economizando um precioso tempo na manhã seguinte.

Desci em um posto próximo a San Jose, e ao lado de um mercadinho armei minha barraca - a infinidade de mosquitos não me permitiram dormir ao ar livre. Acordei antes das dez, e depois de comer uma medialuna recheada com cabelo, fui novamente me queimar ao sol. Próximo a mim, uma mulher pedia carona, e como era de se esperar, a conseguiu antes de mim. Cerca de 2 horas depois subi a um carro com duas mulheres e um moleque de uns 6 anos que dormiu deitado ao meu lado durante quase toda a viagem, despertando-se apenas em um momento gritando: "Vou vomitar!!!" Esse foi apenas um dos sustos que levei durante a viagem, já que a condutora deste carro não era das mais habilidosas, além do fato que a amiga que a acompanhava tirava sarro a todo momento, deixando-a ainda mais nervosa ao volante. Também escutavam sertanejo. Passamos, na metade do caminho, pela mulher que pedia carona perto de mim no posto em San Jose, ela pedia carona novamente na beira da estrada.

Cheguei a Santo Tomé. Parece que os santos estavam ao meu lado, visto que daí dei sorte de agarrar uma carona grande até Santa Fé. Pedi carona num posto a um Gendarme (Oficial da Gendarmeria, orgão militar responsável pelas fronteiras argentinas) e com ele estive por cerca de 7 horas ininterruptas a não menos de 140 km/h. No mesmo posto em Santo Tomé estava novamente a mulher pedindo carona: ou é um fantasma ou uma agente do FBI disfarçada que acha que eu sou um louco terrorista. Bom, o Gendarme era gente boa, dividiu uma pizza comigo e conversamos sobre inúmeros assuntos para afastar o tédio, o que era difícil com a mesmice da paisagem da região: planices e estradas retas que terminavam no horizonte. Acho que ele ficou indignado nos momentos em que cochilei, e aumentava o rádio quando isso acontecia. Advinhem o que tocava? Fato: Missioneiros adoram sertanejo brasileiro. Fato 2: Missioneiros acham que Calypso é sertanejo.

Outro fato é que essa carona veio a calhar e me deixou muito mais perto de Buenos Aires do que esperava. Enfim tudo estava dando certo. Em Santa Fé busquei um hostel, já que agora preciso de internet para trabalhar. Após um relaxante banho quente coloquei meus malcheirosos tênis para tomar um ar na varanda e após algum trabalho fui dormir. Acordei somente no dia seguinte. Chuva. Tênis completamente encharcados. De mau humor, continuei trabalhando e decidi tomar um ônibus até Rosário para fugir da chuva, e lá tomaria novamente um trem a Buenos Aires. A viagem passou bastante rápido devido à conversa que mantive com uma médica que estava sentada ao meu lado e, já em Rosário, a dúvida era se deveria seguir direto a Buenos Aires ou se deveria visitar um amigo na cidade. Escolhi a segunda opção e fui até o hostel em que ele trabalhava. Conheci um canadense muito louco que dizia que iria comprar uma canoa e viajar até Buenos Aires pelo rio Paraná. É a prova que existe gente mais louca que eu (viu mãe, te disse). O rio Paraná a essa altura é trafegado por transatlânticos gigantescos que buscam o importante porto de Rosário, tem altos valores de largura e profundidade, sem contar que a distância entre Rosário e Buenos Aires é de 300 km.

Na noite seguinte parti em ônibus também a Buenos Aires porque descobri que o trem não funcionava aos finais de semana. Cheguei novamente à Capital Federal domingo dia 20 de fevereiro e pela terceira vez essa cidade me engole, rs! Não consegui falar com meu amigo que me hospedou aqui durante o domingo, e por isso novamente me dirigi a um hostel, e aproveitando estar perto do centro fui novamente ao Maluko Beleza, bar que sempre esteve presente em minhas estadias passadas nesta cidade. Encontrei várias pessoas, inclusive um conhecido de Curitiba que estava passando uns dias em Buenos Aires, mas já na segunda feira acompanhei meu amigo a uma das muitas cidades metropolitanas da Grande Buenos Aires, Morón, na zona oeste, e aqui estou desde então, e passei muito bem.

Sábado, dia 26, fiz a tatuagem que a tanto tempo esperava, uma coruja, ave símbolo da sabedoria e da inteligência, possui ampla visão dos acontecimentos dada a capacidade de virar a cabeça 180º. Além de voar, o que inevitavelmente me dá uma sensação de liberdade. Hábitos noturnos, silenciosa, discreta, representa tudo o que busco ser. Uma única sessão, 8 horas, quase morri. É sério. Com 4 horas de tatuagem eu já não aguentava mais. Chegava um momento que o ardor provocado pela pomada anestésica era pior que a própria dor das agulhas furando a pele. Entretanto o pior momento ainda estava por vir. Coceira, muita coceira. Dias e dias de coceira e nem pense em coçar. Mas agora já está um pouco melhor.

Fora isso, os dias por aqui foram muito bem aproveitados, festas, baladas, churrascos e até a um zoológico fomos. Facundo, a segunda grande amizade que fiz na viagem, me apresentou a vários amigos. Joguei futebol com argentinos (meu time ganhou, óbvio, contava com um brasileiro). Também teve um fiasco. Certa noite, dispensamos todas as mulheres do grupo para irmos "caçar". Todos os moleques animados, cantávamos todas as mulheres da rua. Entramos numa balada, fomos ao bar, tomamos uma dose de Jagermeister e quando olhamos ao redor deparamos com a realidade: estávamos em uma festa gay. Demoramos a acreditar, afinal, além de ser uma festa a fantasia, haviam muitas mulheres, muitas delas, lindas. Mas não, éramos os únicos héteros do lugar. Não tenho e nunca tive problemas com gays, mas nunca me senti tão mal e tão incomodado em um lugar antes. Fui embora com extremo mau humor, desacreditando o que tinha acabado de acontecer e o mau humor só passou no dia seguinte.

Noutro dia desses conheci também um outro mochileiro caroneiro brasileiro: Raphael, um carioca que pretendia ir a Ushuaia também, mas como todos os outros, não tinha tanto tempo quanto eu. Por isso ainda não foi dessa vez que arrangei um companheiro de viagem, alguém se candidata? Para terminar fomos ao Zoo de Lujan, uma cidade não muito longe daqui. Não é muito limpo, nem muito organizado, mas mesmo assim fantástico pelo contato que podemos ter com os animais. Em que outro lugar da américa eu poderia acariciar um tigre ou andar em dromedário? Foi muito bacana, confiram as fotos. Também vou postar um vídeo, confiram a seção!

Hoje ou amanhã eu devo ir a La Plata e ENFIM seguir à Patagônia, lugar que deveria ter ido ainda em 2007. Vamos ver quais coisas bizarras me esperam daqui pra frente, e sem dúvida espero que sejam muitas.

Um grande abraço a todos e até a próxima postagem!

Andejo

Um comentário:

  1. afffeeeee.... sem comentarios q eu nao vi a opção anonimo! hahuahuah
    einnn
    ameii o post anterior, especificamente a parte da visita a minha humilde mulheramaaaaaa...sucesso!!! foi tao gostoso! =)
    deu ate saudade....so nao deu saudade da viagem eterna até guaira.... deusulivreee quanto apuro!!
    bom.. sucesso ai nas continuas caminhadas e descobertas!!
    saudadess
    beeeijo

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